O Consórcio STHEM Brasil realizou nesta quinta-feira (15), de forma síncrona, mais uma etapa da 10ª edição do Programa de Formação de Professores, que teve a participação de 109 professores. No evento, a professora Paola López Campos, que trabalha com inovação educacional e integração de tecnologias no Instituto Tecnológico de Monterrey, fez uma apresentação sobre o tema “Desenho de experiências de aprendizagem baseadas na Neuroeducação”.

No primeiro exercício realizado, com o objetivo de troca de aprendizagens e provocar o desenvolvimento do cérebro, os docentes responderam por meio da plataforma www.menti.com a questões sobre como estavam se sentindo, o que gostavam de fazer no tempo livre e qual o estilo de aprendizagem.

Em seguida, Paola López Campos explicou o que é a Neuroeducação – usada para melhorar os processos de ensino/aprendizagem com abordagem integrativa (a união da Neurociência, que estuda o cérebro, da Pedagogia, que estuda a educação, e da Psicologia, que estuda a mente) – e o que são os chamados neuromitos.

“Neuromitos são falsas verdades ou interpretações científicas errôneas que se têm aplicado na educação e no ensino, e que são um problema grave e de difícil erradicação.  Existem mais de 50 neuromitos, e seu maior risco ocorre quando chegam às instituições ofertas de ‘pacotes neuroinformativos’, que supostamente fornecem um guia aos professores para melhorar o ensino”, explicou a professora, que listou algumas dessas pseudo neuroinformações:

  1. Usamos apenas 10% do cérebro.
  2. Os alunos aprendem por meio de seu estilo de aprendizagem (visual, auditivo, cinestésico) – “Não há evidências empíricas. A aprendizagem ocorre quando esses estilos são combinados já que o cérebro é multissensorial, um exemplo é uma criança que desenha sobre os estados da matéria e também escreve um resumo de quais são os estados da matéria”.
  3. Estereótipos como o hemisfério esquerdo é analítico e o hemisfério direito é holístico e global – “O cérebro funciona de forma integrada por vias entre si, embora o Eureka ou A-ha ocorra no hemisfério direito”.
  4. A importância dos três primeiros anos – “Embora haja uma geração acelerada de neurônios e conexões nesses primeiros anos, devemos ver o aprendizado ao longo da vida”.
  5. O efeito Mozart – “Durante algum tempo pensou-se que ouvir uma melodia composta por Mozart aumentava a inteligência”.

A educadora do TEC de Monterrey apresentou o segundo exercício de interação entre professores, utilizando o PadLet (https://pt-br.padlet.com/), que mescla diversas tecnologias e cria uma comunidade de aproximação entre eles para se conectarem e trocarem aprendizagens. As equipes foram divididas em grupos para ler um trecho do livro Neuromitos na educação: aprendendo com a neurociência, e a partir da leitura discutir e responder por que devem desmentir 12 neuromitos apresentados.

Na sequência, Paola López Campos detalhou o que é neurodiversidade: “Visa a celebrar os pontos fortes de cada pessoa com base na premissa de que cada cérebro é diferente e tem uma configuração única. É uma forma de visualizar os déficits como diferenças normais de cada pessoa. Não se trata de esconder as necessidades dos alunos. Trata-se de enfrentar os desafios que eles têm por meio de uma rede de apoio e compreensão para os pais e para eles”.

Segundo a educadora, o termo neurodiversidade foi cunhado por Judy Singer nos anos 1990 para se referir ao Transtorno do Espectro Autista (TEA). “A neurodiversidade não busca a cura para essas pessoas, mas acolher as diferenças e dar o suporte necessário para enfrentar esses contrastes e potencializar suas capacidades”.

A especialista deu exemplos de como usar a neurodiversidade em favor de alunos com transtornos como TEA, TDAH, dislexias, síndromes de Asperger, Tourette, entre outras. “Pessoas neurodiversas podem transformar o mundo porque pensam diferente e fora da caixa”, destacou. Ela também fez um alerta em relação aos jovens que fazem uso da ritalina para ter maior foco nos estudos: “Há trabalhos acadêmicos que indicam que o uso desse medicamento pode vir a desenvolver a TDAH, transtorno que já faz uso desse remédio”.

López Campos salientou, ainda, as oito razões para integrar a neurodiversidade na prática docente:

  1. Altas expectativas levam a maiores conquistas – Efeito Pigmaleão;
  2. Precisamos de um paradigma de crescimento em vez de um paradigma de déficit;
  3. A neurodiversidade apoia a inclusão;
  4. A neurodiversidade se alinha com as políticas e programas de diversidade das escolas;
  5. A neurodiversidade estimula uma reforma real em nossas escolas;
  6. Ajude a reduzir o bullying na escola;
  7. Pessoas neurodiversas podem transformar o mundo;
  8. Precisamos de uma diversidade de mentes para estarmos preparados para o que pode acontecer no futuro.

Quanto aos benefícios da inclusão da neurodiversidade na prática docente, López Campos salienta que “aumenta a motivação, a autoestima e a resiliência dos alunos. Aceitar e planejar a diversidade trará benefícios para nossa sociedade. Um mundo empático terá maiores oportunidades de encontrar equilíbrio por meio das conexões sociais que são geradas”.

A educadora ensinou que alguns alunos têm transtornos sociais e problemas que podem ser detectados pelos docentes observando suas atitudes. “Quando o aluno tem dificuldade com letras, mistura as letras, nas formas de pegar o lápis, nos cálculos, na postura dentro da sala de aula, na repulsão em se sociabilizar com outros alunos, os professores precisam ficar atentos porque nosso papel é colocar uma luz na vida desse aluno que está escondido e ninguém pensou nele, ou seja, no aprendizado dos diferentes”. Como exemplo, mostrou o vídeo sobre o garotinho Lorenzo: https://www.youtube.com/watch?v=GUfa7p5qqa0

Paola López Campos detalhou também os principais transtornos como Síndrome de Asperger (TEA), TDAH, dislexias e os duplamente excepcionais e apresentou soluções para trabalhar com esse público como jogos Cara-Cara (TEA) para desenvolver flexibilidade cognitiva, leitura imersiva para disléxicos, flexibilidade para dificuldades em aprender matemática ou na escrita e atividades desafiadoras para planejar e melhorar o autocontrole dos que têm TDAH, sempre salientando que em todos os casos é fundamental trabalhar a socialização entre esses grupos.

Os depoimentos de alunos que lidaram com dificuldades na aprendizagem  estão em: https://www.understood.org/. O portal traz ainda recursos para professores incrementarem as aulas e trabalharem com esses alunos.

Outro exercício da formação foi para que os docentes desenvolvessem exemplos de como usar em sala de aula as Estratégias baseadas na neurociência para estimular o desenvolvimento social dos estudantes. São elas:

  1. Aprendizagem cooperativa – Processo educacional no qual os participantes ajudam e confiam uns nos outros para atingir um objetivo definido
  2. Aprendizagem baseada em desafios – Proporciona a todos os participantes um ambiente eficiente de aprendizagem por meio da solução de desafios do mundo real.
  3. Aprendizagem baseada em serviços/projetos – Permite que alunos desenvolvam uma postura proativa para desenvolver habilidades e conhecimentos por meio de um trabalho que envolve estudos, solução de problemas, busca de respostas e realização de pesquisas.
  4. Instrução temática –  Iinstrução baseada em pares, envolvendo áreas diversas
  5. Gamificação – Aplicação de mecanismos e dinâmicas dos jogos para motivar e ensinar os usuários de forma lúdica.
  6. Atividades físicas e movimento – Benefícios para a saúde física e mental em ambientes externos, para sair da ansiedade e da rotina.
  7. Educação emocional – Ensinar como identificar, compreender e gerenciar as próprias emoções.

Por fim, Paola López Campos resumiu as reflexões feitas durante a formação e deu quatro caminhos para o desenvolvimento dos professores, revisando as Diretrizes do Design Universal CAST (estrutura para melhorar e otimizar o ensino e a aprendizagem para todas as pessoas com base em insights científicos sobre como os humanos aprendem): público, experiências, motivação e significados, desafiando-os a criarem o seu próprio Manifesto pela Neuroeducação.

Abaixo as definições dos principais transtornos apresentados pela especialista do TEC de Monterrey:

Dislexia é considerada um transtorno específico de aprendizagem de origem neurobiológica, caracterizada por dificuldade no reconhecimento preciso e/ou fluente da palavra, na habilidade de decodificação e em soletração. Essas dificuldades normalmente resultam de um déficit no componente fonológico da linguagem e são inesperadas em relação à idade e outras habilidades cognitivas.

Dupla-excepcionalidade é definida como a presença de capacidades superiores em uma ou mais áreas, que ocorre conjuntamente a deficiências ou condições tidas como incompatíveis a essas capacidades.

Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é um transtorno neurobiológico de causas genéticas, caracterizado por sintomas como falta de atenção, inquietação e impulsividade. Aparece na infância e pode acompanhar o indivíduo por toda a vida.

Transtorno do Espectro Autista (TEA) é resultado de alterações físicas e funcionais do cérebro e está relacionado ao desenvolvimento motor, da linguagem e comportamental. O TEA afeta o comportamento da criança. Os primeiros sinais podem ser notados em bebês nos primeiros meses de vida.

Síndrome de Asperger, transtorno de desenvolvimento que afeta a capacidade de se socializar e de se comunicar com eficiência. A síndrome de Asperger é um estado do espectro autista, geralmente com maior adaptação funcional. Ver em: https://www.youtube.com/watch?v=C6ifyPRIab0

Hoje (dia 16) a formação será repetida para outros docentes inscritos.