Por Luis Fernando Rabelo Chacon [1]

Nesta primeira semana de fevereiro (2024) o mundo ficou estarrecido com a notícia na Forbes de que uma empresa chinesa foi vítima de golpe milionário através de “deepfake[2]  . “Bandidos virtuais” simularam uma reunião em que o diretor financeiro (na verdade, simulado pela inteligência artificial) e outras pessoas participam de uma reunião e autorizam, a única pessoa real participante da reunião, a efetuar uma transferência bancária na cifra de R$ 127 milhões. Os falsários demonstraram grande habilidade técnica no uso da IA, sem nenhuma preocupação com o uso ético e lícito da ferramenta.

Por que isso é importante para o Ensino Superior?

Mais do que implantar o uso da inteligência artificial nos seus processos internos acadêmicos e pedagógicos, as IES deverão se preocupar com dois assuntos correlatos: (i) ensinar seus alunos a operar a tecnologia versus (ii) ensinar seus alunos a operar a tecnologia com ética. Não bastará preparar profissionais habilidosos do ponto de vista técnico. Afinal, exemplos do uso inadequado e ilícito a sociedade nos entrega todos os dias, portanto, caberá às IES corrigir esta rota com base no ensino do uso eticamente responsável da inteligência artificial.

O caso acima revela o maior desafio atual das IES que é implantar o uso da inteligência artificial em seus processos acadêmicos e pedagógicos, sem perder de vista a necessidade de preparar os alunos para os desafios éticos do uso da mesma tecnologia.

As IES deverão entender como isso poderá ser feito de maneira eficiente, seja para melhorar seus desempenhos e indicadores, administrativos e pedagógicos, seja para criar diferenciais de mercado e preparar seus alunos para esse novo mundo, que se renova praticamente todos os dias. Porém, as mesmas IES não poderão ignorar o fato de que o uso da inteligência artificial é um tema relevante para a sociedade, afinal formarão profissionais de diversas áreas que atuarão com ou serão impactados pela IA.

O desafio é criar o equilíbrio entre dois aspectos: usar a inteligência artificial como ferramenta pedagógica/administrativa e ao mesmo tempo preparar os alunos para o uso técnico, ético e humanizado dela.

No primeiro aspecto do desafio (usar a IA como ferramenta pedagógica/administrativa) registramos alguns questionamentos:

Como está o programa de proteção de dados pessoais da sua IES? Como está a política de cyber-segurança no ambiente dos processos acadêmicos e pedagógicos da sua IES? Sua IES está pensando na criação de um comitê interno e na organização de boas práticas para o uso da IA no ambiente acadêmico? Como sua IES está se comportando com a atualização de contratos com consumidores e trabalhadores no que tange ao uso da tecnologia? Como as ferramentas de IA ajudarão sua IES na melhoria dos processos internos pedagógicos (controle de presença através de geolocalização ou reconhecimento facial, correção automatizada de avaliações etc.)? E o que sua IES tem feito na melhoria dos processos internos administrativos (celebração de contratos e suas renovações, apresentação de documentos relacionados à compensação de ausências, atribuição e distribuição de aulas e espaços, controle e combate à evasão, etc.)?

No segundo aspecto do desafio (preparar os alunos para o uso ético e humanizado da IA) as principais questões são: como preparar os alunos conectados a este mundo virtualizado, sem perder a qualidade do processo de ensino e aprendizagem, sem deixar de lado as balizas éticas deste novo mundo, e sem perder o lado humanizado do atendimento desse mesmo aluno?

O desafio é quase intangível. No mesmo ambiente em que as IES enfrentam dificuldades nas matrículas e tantas outras questões de mercado, temos agora uma onda inevitável que exigirá ação de todas as instituições, inclusive, dada a sua responsabilidade social.

Entretanto, “é preciso preparar o telhado antes da chuva chegar”. Precisamos que as IES adotem uma posição ativa, construtiva. O SEMESP e o Grupo de IA do Consórcio STHEM Brasil estão discutindo o assunto e ao longo deste ano trará novidades para todo o ensino superior brasileiro.

[1] Luis Fernando Rabelo Chacon. Sócio fundador do Chacon Macedo Oliveira Sociedade de Advogados desde 2000, com ampla atuação no segmento educacional. Mestre em Direito e Professor Universitário no Centro Universitário Salesiano de São Paulo – Unidade de Ensino de Lorena SP desde 2001. Participante do Grupo de Estudos do STHEM SEMESP METHARED sobre inteligência artificial no ensino superior.

[2]  Forbes