O Consórcio STHEM Brasil convidou o Prof. Justino,  do Instituto Federal Goiano, para dar uma aula para os docentes das instituições consorciadas sobre os desafios de se trabalhar com a Inteligência Artificial (IA).

“A missão do Consórcio é instigar a inovação acadêmica nas instituições de ensino superior e não é possível fazer isso sem conhecer e pensar na Inteligência Artificial. Assim que o Chat GPT apareceu, e todo mundo começou a falar na ferramenta, nós vimos as preocupações dos professores sobre como usar essa ferramenta, e começamos a pensar nas alternativas. Eu conversei com muitos reitores e professores, todos preocupados com o uso da IA e buscando caminhos. Talvez não tenhamos as respostas para todas as nossas dúvidas com relação à IA, o STHEM Brasil decidiu que era preciso tratar do tema e, como eu conheci o Prof. Justino, o convidei para participar do curso”, afirmou Fábio Reis, presidente do Consórcio.

Graduado em História e Pedagogia, e finalizando a terceira graduação em Computação, o Prof. Justino é mestre e doutor em Educação pela Universidade de Brasília já há algumas décadas, e divulga todos os seus conhecimentos com a IA em seus canais nas redes sociais, onde criou por meio da IA o personagem Justininho. Seus canais são, no Instagram, https://www.instagram.com/profjustino/ e, no YouTube, https://www.youtube.com/@ProfJustino.

O Prof. Justino iniciou seu curso mostrando três imagens. “As três imagens foram geradas pela IA, duas por meio da ferramenta Bing Imagine Creator e uma pelo Midjourney, que é onde eu dei um comando para criar o meu personagem Justininho”. O primeiro caminho, segundo o professor, é acessar a ferramenta, no caso do Bing Imagine Creator por meio do e-mail da Microsoft, além de criar um prompt. O Prof. Justino explica que o prompt é um comando que se dá para a IA, onde é feito o pedido de criar uma imagem da forma como é imaginada pelo humano que comanda a ferramenta. “Aqui já vai uma primeira observação. Quando eu pedi, em especial ao Midjourney, para criar o Justininho, com um corpo gordo e que o colocasse dentro de uma pirâmide do Egito, percebi que foi uma dificuldade muito grande, porque a IA só criava um Justininho magro. E outro detalhe interessante é que o Justininho, além de magro, tinha olhos azuis, e os meus olhos passaram longe de serem azuis, o que nos mostra que as IAs são treinadas por humanos e alimentadas pelo mundo humano, ou seja, as IAs não criam a sua própria referência. Elas constroem algo a partir do que elas aprendem”.

Ele destacou que todo cuidado é pouco, porque a IA é muito sedutora. “Se passarmos um comando para a IA enviesado, a nossa resposta será um conhecimento também enviesado. Quer dizer que, se eu tenho uma rede formada por pessoas que treinam a IA que são racistas, eu posso ter respostas racistas. E se eu a treino a IA em uma visão de mundo machista, eu posso ter respostas machistas”, afirmou.

Em sua aula, o Prof. Justino foi mais além, ao mostrar que a IA pode ser usada para criar um caminho para a educação híbrida. “A segunda construção que eu pedi para a IA foi um Justininho meio homem, meio máquina, conversando com um Justininho mais conservador, e essa forma híbrida é talvez o grande caminho que eu vejo para a educação”.

No entanto, para o Prof. Justino, a educação necessita de um olhar mais preceptivo para os alunos, ou seja, de uma educação mais personalizada e questionou como fazer isso com um olhar na modernidade de uma educação de massa na qual o professor precisa dar aula para 50 alunos e os conhecer um a um. “Alexandre, o Grande, dominou o mundo porque teve como preceptor Aristóteles, ou seja, ele recebeu uma educação individualizada de alta qualidade.  A percepção de trabalhar a tutoria é um trabalho difícil e caro, mas é um trabalho educacional que sabemos que funciona e precisa ser feito. Um caminho pode ser com o uso da IA”.

Segundo o Prof. Justino, hoje a educação tem dois problemas: “O problema está em duas letras C: criatividade e curiosidade. O que não conseguimos hoje aprender sobre as coisas na internet? Mas cadê a curiosidade? Será que as Inteligências Artificiais não podem nos dar tempo para sermos mais criativos e curiosos? Se os professores não forem mais criativos e curiosos, não vamos conseguir compartilhar e trocar conhecimento com os nossos alunos”.

Ele também orientou os docentes a usar a versão gratuita do ChatGPT, caso for usar pouco. “Agora, se for usar muito, uma versão paga que possui diversos plug-ins, como por exemplo, ler PDF, é melhor. Eu pedi um resumo e ele fez um resumo do capítulo 4 da minha tese. Eu posso conversar com um PDF específico. Quando você entra em uma linguagem generativa, a pior pergunta que você faz é a objetiva. Quanto mais objetiva for a minha pergunta, pior será a minha resposta. A graça do ChatGPT é a criação, não é a reprodução. E se eu refinar o meu prompt as respostas vão melhorando”, explicou.

Mais um alerta foi dado pelo professor: “Com a inteligência generativa, é necessário conversar com ela. E como é uma máquina, ela não sabe o que escreve. Tudo que eu perguntar ela me responde. A informação que ela vai dar é baseada na pergunta que eu fiz, e ela responde por probabilidade. Qual é o risco disso? Ela pode responder uma besteira absurda. E ela não vai construir tudo sozinha. Ela ainda precisa de uma curadoria nossa, para podermos mediar”.

Outra questão levantada pelo Prof. Justino foi qual seria o lugar dos docentes nesse mundo do ChatGPT: “Será que tem lugar para todo mundo, e quem usar a IA não vai ter um aumento nas habilidades? As IAs não vão aprofundar as diferenças sociais entre as pessoas, ou até tirar o lugar de um professor?”. E ele mesmo respondeu: “Eu acho que o lugar do professor não vai acabar. Agora, o professor que não souber trabalhar com IA pode ter um problema. A pergunta que devemos nos fazer é: o que você faz que uma IA não faz?”

O Prof. Justino finalizou sua palestra dizendo que “cada vez mais as produções serão híbridas, feitas entre humanos e IA. As IAs podem ajudar muito os estudantes e podem nos ajudar, precisamos ainda de muita mediação, mas é um caminho. O diferencial na aula do professor não é passar conteúdo, isso a IA faz. Temos de ter visões e considerações holísticas do mundo, ou seja, quando eu compreendo o todo, eu dou uma significação a mais. Temos de ser professores inesquecíveis. E esse professor ainda não pode ser substituído pela IA, pois ela ainda não consegue essa relação professor-aluno de troca de sabedoria, empatia, emoção, sentimentos: o saber ouvir”, finalizou.