Pouco mais de um ano após a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretar a pandemia da Covid-19, o mundo ainda sofre as consequências da disseminação do vírus. Uma das áreas mais afetadas pela pandemia, a educação, segue se adaptando ao “novo normal”. Para discutir aprendizados e desafios do período, o Semesp está realizando, em parceria com o Consórcio STHEM Brasil, o webinar Cenário do Ensino Superior no Mundo Atual: como as IES do mundo estão se organizando em tempos atuais.

Nessa terça (20), a editora-chefe do The Chronicle of Higher Education, Liz McMillen (Foto), participou do primeiro episódio do webinar discutindo como as IES dos Estados Unidos têm enfrentado a pandemia a partir de cinco perspectivas: operacional-financeira, vacinação e reabertura dos campi, queda de matrículas, a relação entre alunos e professores e as mudanças que a pandemia trouxe para a educação superior.

“A pandemia da Covid-19 ainda não acabou, e as IES ainda precisam continuar se adaptando à situação”, começou Liz McMillen. “No que diz respeito a questões operacionais-financeiras, as IES que fecharam nos Estados Unidos durante a pandemia já estavam enfrentando problemas antes. A pandemia gerou mais união entre as IES do que fechamentos, apesar do setor ter tido perdas de cerca de 180 bilhões de dólares”, contou.

Segundo McMillen, o governo norte-americano injetou US$ 77 bilhões no setor do ensino superior, destinando 50% dessa verba para auxiliar estudantes e a outra metade para as IES utilizarem como quiserem, na infra-estrutura ou aquisição de ferramentas digitais, por exemplo. “Apesar da ajuda, a verba foi insuficiente e o setor teve que demitir 12% dos colaboradores, além de outros cortes de orçamento”, lembrou Liz. “Apenas esses cortes não são suficientes e as IES precisarão se adaptar a uma nova forma de operar”.

Liz McMillen também discorreu sobre a vacinação e o plano de reabertura das IES. Segundo ela, várias universidades estão considerando voltar a ter aulas e algumas atividades presenciais nos campi a partir de agosto. Algumas querem estabelecer como regra a vacinação obrigatória para que os alunos possam voltar às aulas presenciais. Liz destacou que esse requerimento está gerando brigas políticas e falou dos riscos legais que tal medida pode acarretar. “As IES precisam levar em consideração ainda como será a eficácia da vacinação, então acredito que o ensino remoto continuará sendo a norma”.

Queda das matrículas

“Em 2020, as IES vivenciaram um precipício de matrículas com queda de cerca de 520 mil alunos no segundo semestre”, disse McMillen. De acordo com ela, essa queda tem afetado de forma diferente os vários sistemas de ensino. “As IES que estão no topo da cadeia, como Harvard, por exemplo, possuem uma longa lista de espera de alunos e não serão afetadas. As IES menores é que sofrerão o efeito, com queda de novas matrículas de alunos de baixa renda, afrodescendentes e latinos. Durante a pandemia, o ensino superior é luxo”, constatou. “Outra grande mudança é que várias IES deixaram de adotar os testes padronizados de seleção, mudando todo o cenário de ingresso para o ensino superior”.

Liz McMillen destacou também que as IES precisam considerar um novo fator: a experiência dos estudantes está mudando. “Eles querem mais opções flexíveis e cursos híbridos. As universidades precisam se preocupar ainda com o bem-estar e saúde mental dos estudantes, com os traumas gerados pela pandemia, além de entender que as novas gerações veem as IES cada vez mais como uma ponte para o mercado de trabalho”, pontuou.

Outra questão que mudou durante a pandemia é a relação das instituições de ensino com os estudantes internacionais. “A proporção de estudantes de outros países vinha aumentando e a pandemia reduziu esses números em mais de 70%. Mesmo oferecendo serviços online, talvez esses números não voltem a ser o que eram antes da pandemia, ainda mais porque os Estados Unidos estão passando por uma onda de discriminação contra asiáticos, que representavam cerca de 70% das matrículas de alunos internacionais”, adiantou Liz.

Em relação aos docentes, Liz lamentou que vários profissionais estão sofrendo da síndrome de Burnout, principalmente porque esses professores perderam o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal. “De acordo com pesquisa, cerca de 50% dos professores pensam em abandonar a carreira, o que gera uma perspectiva instável para os próximos anos”, decretou.

Liz encerrou o webinar resumindo algumas mudanças que a pandemia causou na educação superior. “O ensino superior não evolui de forma rápida. Uma mudança positiva da pandemia foi acelerar uma série de mudanças que o setor já deveria ter adotado há algumas décadas”, disse. “A experiência híbrida, por exemplo, será a base do ensino superior. O espaço dos campi precisa ser repensado, assim como as salas de aula. As universidades precisam também investir em mais análise preditiva para dar um melhor suporte para os estudantes, além de repensar as avaliações e flexibilizar o calendário acadêmico”, finalizou.

A série de webinares Cenário do Ensino Superior no Mundo Atual prosseguirá nas próximas terças discutindo o cenário atual da Europa, Índia e Brasil. Saiba mais aqui.