Manolita Correia Lima, coordenadora do Núcleo de Inovação Pedagógica (NIP) da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), detalhou em entrevista ao site do STHEM Brasil as contribuições do consórcio para as instituições consorciadas, enfatizando a importância da formação pedagógica do corpo docente frente ao desafio de aproximar o ensino da aprendizagem.

Quando a ESPM entrou no Consórcio STHEM Brasil?

Manolita Correia Lima – A ESPM é uma das 11 instituições que integram o Consórcio STHEM Brasil desde o seu nascedouro. O professor Alexandre Gracioso, vice-presidente acadêmico, incentivou e viabilizou a participação da Escola desde 2014. E a responsabilidade de cuidar dessa interface com o consórcio foi confiada ao NIP, o Núcleo de Inovação Pedagógica, criado em 2013, no contexto da elaboração de seu Plano Diretor Acadêmico (PDA). O NIP reúne a Academia Nacional de Professores (ANP), instância que promove atividades voltadas para o fortalecimento da formação pedagógica dos professores; o Núcleo de Pesquisa e Publicação Pedagógica (NPPP), instância que desenvolve pesquisas voltadas para o ensino e a aprendizagem, além da Central de Casos, responsável pelo desenvolvimento e uso de casos de ensino.

Qual é a composição do Núcleo de Inovação Pedagógica da ESPM?

M.C.L. – Até o começo deste ano (2021), o NIP respondia à vice-presidência acadêmica, no segundo semestre passou a integrar a Diretoria de Sucesso de Professores e Estudantes, que, por sua vez, responde ao vice-presidente acadêmico. O NIP é considerado como uma unidade estratégica para os projetos que envolvem inovação pedagógica na Escola. Reúne professores fixos e professores que trabalham por projeto. Entre os professores fixos, contamos com três na unidade de São Paulo, dois na unidade do Rio de Janeiro e um na unidade de Porto Alegre. E para cada projeto que o NIP desenvolve, seja realizando projetos de pesquisa, organizando e acompanhando as atividades de formação pedagógica ou desenvolvendo artefatos pedagógicos, vamos atraindo professores ad hoc. Por exemplo, atualmente, desenvolvemos um game, apesar de o projeto ser coordenado pelo NIP, a equipe responsável pela realização oferece algumas horas semanais para desenvolver a ferramenta. Outra frente do NIP é a Central de Casos, que oferece o suporte necessário para o professor desenvolver e utilizar casos de ensino. Ao concluir, ele é remunerado pelo trabalho realizado e o produto final passa a ser de propriedade da Instituição. A rigor, o NIP é formado por um pequeno grupo de professores, mas é bem maior quando se leva em conta o número de professores que desenvolvem projetos específicos. Essa flexibilidade ajuda a atrair professores com perfis aderentes a cada projeto em desenvolvimento.

Qual é a importância e a contribuição do Consórcio STHEM Brasil para o NIP?

M.C.L. – O ingresso da ESPM no consórcio veio ao encontro do que já estávamos realizando. Então, eu não diria que o consórcio alterou as práticas pedagógicas na ESPM, mas tem reforçado o que fazemos na medida em que grande parte das atividades promovidas são conduzidas por renomados professores internacionais, reconhecidos pela experiência que acumulam, pelo que publicam e por estarem vinculados a instituições de referência mundial.

Como a Semana de Formação do STHEM Brasil tem contribuído para a formação pedagógica dos professores da ESPM?

M.C.L. – De modo geral, os professores que participam da Semana de Formação se dedicam integralmente a programação oferecida. Depois de passar uma semana convivendo com colegas vinculados a distintas instituições, atrelados a diferentes cursos e com experiências docentes diversas, mergulhado nas exigências implicadas por determinado método, o professor volta para a instituição diferente, muito entusiasmado com o que viveu e motivado a aplicar parte do que aprendeu. Eles podem até reclamar que uma atividade foi melhor que a outra, que determinado professor teve mais de uma participação na programação, mas o que mais se percebe é a contribuição desse convívio com outros colegas. Essa diversidade de grupos gera um efeito muito positivo porque o professor se sente parte de um movimento maior. E isso não é invenção da ESPM, cobrança para que o professor transforme a sua prática docente! É algo maior, um movimento mais amplo, que nos agrada muito uma vez que além de aprender, irá compartilhar com os colegas ao oferecer atividades de replicação.

Quantos professores foram impactados pelas atividades promovidas pelo consórcio?

M.C.L – De cada três professores que enviamos para a Semana de Formação, o aprendizado é replicado para um grupo que varia entre 10 e 15 profissionais. O professor que participou de determinada Semana de Formação se compromete a compartilhar o que aprendeu com cinco colegas. Em geral, escolhe a atividade que julgou mais interessante, que compreendeu melhor, e replica entre cinco colegas interessados. Assim sendo, em cada edição, 15 pessoas são sensibilizadas com os fundamentos e a experiência que o professor trouxe, aplicou na disciplina que ministra, avaliou o processo e os resultados e transfere o que é possível para os colegas. E sendo uma dinâmica entre colegas, entre pares, a linguagem é muito mais adequada. A ESPM não interfere na escolha dos docentes que serão favorecidos pela replicação. Não enviamos apenas professores, investimos também no grupo formado por técnicos educacionais. Julgamos extremamente importante que os técnicos entendam a lógica da inovação pedagógica, porque eles nos ajudam em muitas frentes. Assim sendo, já envolvemos profissionais da área de TI e do programa de EAD. Desde 2014, mais de 30 profissionais participaram da Semana de Formação e um pouco mais de 100 foram impactados com a replicação.

O que os docentes conseguem agregar com a participação em outros eventos do STHEM Brasil, como o Fórum anual ou o Encontro de Boas Práticas?

M.C.L. – No Fórum que o STHEM promove, nossos professores são incentivados a desenvolver artigos relatando práticas, desafios implicados, processos inovativos, e dessa forma têm oportunidade de dialogar com um público mais extenso e variado. E nesse diálogo qualificado, eles colaboram com o interlocutor, mas também aprendem, porque há uma discussão muito frutífera envolvida em cada apresentação. Além do mais, participar desses eventos estimula o professor a frequentar atividades que são oferecidas ao longo do ano, como reuniões, visitas, discussão de boas práticas etc. Com a emergência da pandemia e a necessidade de promover o distanciamento, as exigências do trabalho remoto levou o STHEM a desenvolver variado cardápio de atividades online que representaram fontes de inspiração para os professores explorarem o potencial das tecnologias auxiliares ao ensino-aprendizagem. Frente a tudo isso, os efeitos positivos de participar do STHEM são variados e reforçam a política da ESPM de investir na formação pedagógica dos professores. Quando ingressei na Escola, a Academia de Professores já existia, a agenda era muito diversificada. Mas a partir de 2013, toda a programação está alinhada à formação pedagógica dos professores.

Como surgiu a ideia da ESPM desenvolver pesquisas?

M.C.L. – Com uma programação alinhada à formação pedagógica dos professores, o NIP começou a desenvolver pesquisas cujos resultados revelassem as prioridades. Nós não temos interesse em saber qual é o docente que enfrenta algum tipo de dificuldade, mas qual é a dificuldade. Por vezes o professor tem dificuldade de planejar a disciplina, ou de mobilizar o estudante para os estudos, ou ainda de avaliar o processo e os resultados. E à medida em que identificamos os pontos críticos, geramos uma programação relevante, cuja adesão é voluntária, e só interrompemos nos meses de julho, dezembro e janeiro. Nos demais meses oferecemos atividades pelo menos três vezes por semana. Atualmente, em grande medida, essas atividades são desenvolvidas por professores da ESPM que se destacam no trabalho que realizam nas respectivas disciplinas. Esse compartilhamento de experiências, de leituras e reflexões, é muito apreciado institucionalmente. E, de modo geral, ao serem convidados a compartilhar as experiências com os colegas, os professores se sentem prestigiados, reconhecidos pela qualidade do trabalho realizado.

Outro motivo de investir em pesquisas é ultrapassar visões impressionistas, baseadas na generalização de situações específicas. Exemplo: “todo estudante de primeiro ano tem dificuldade com finanças”. Mas não são todos eles! Então, as pesquisas ajudam a superarmos visões baseadas em opiniões, impressões, preconceitos e, de alguma forma, ajudar a vice-presidência acadêmica a tomar decisões balizadas. Porque as decisões envolvem investimento e é preciso ter um senso de prioridade. As pesquisas vão apontar quais são as ações urgentes, para a escola, de alguma forma, agir. E essa ação pode passar por vários aspectos, ou seja, investir em um minicurso, apoiar a realização de determinado projeto, investir em tecnologia, assinar uma base de dados etc.

Com quais públicos são feitas as pesquisas?

M.C.L. – Esses estudos levam em conta estudantes e professores porque as visões deles são complementares, razão pela qual a discussão dos resultados interessa a todos! Com os dados tratados, promovemos discussões com o professor e com os estudantes interessados. É uma forma de o estudante tomar conhecimento que a escola está comprometida com algumas questões que aparentemente eles não percebem. Então, quando investimos na formação pedagógica dos professores, ampliamos e diversificamos os espaços de aprendizagem, investimos em um mobiliário acêntrico e flexível, capaz de colaborar com algumas metodologias de ensino-aprendizagem e professores e estudantes precisam entender o  porquê.

Outro dado que a pesquisa ajuda a desmistificar se refere à imagem de uma escola que só atrai e acolhe estudantes endinheirados. O crescimento do número de estudantes que trazem marmita aponta para outra direção. Essa constatação justificou a criação de um restaurante que não serve comida, mas funciona como um local onde os estudantes aquecem suas marmitas e se juntam no momento das refeições. Desejamos que os estudantes diversifiquem as experiências no campus, porque enquanto estão conosco criam vínculos de amizade, participam de atividades de interesse curricular, trabalham de forma colaborativa, dedicam-se aos estudos. Então começamos a perceber que as áreas de convivência são importantes para que os estudantes se conheçam, façam parcerias, estudem em grupo, compartilhem suas angústias, resolvam seus problemas juntos, ou seja, entendemos que essa convivência é importante para o crescimento emocional e cognitivo.

Com os resultados, promovemos discussões em pequenos grupos para saber se estamos desenvolvendo interpretações pertinentes, dessa forma conseguimos qualificar os dados e valorizar a percepção de nossos interlocutores. Isso acontece principalmente com estudantes, porque em relação aos professores temos outras formas de qualificar os dados, até mesmo nas atividades oferecidas pela Academia Nacional de Professores. Então atraímos cerca de 10 a 12 estudantes, formamos um grupo focal, apresentamos os resultados parciais da pesquisa e discutimos. Essa discussão tem duplo efeito: os estudantes conhecerem mais a escola e a escola conhece melhor os estudantes e suas necessidades! Dessa forma, a escola se comunica melhor com o estudante, ultrapassando os limites dos contatos mais protocolares. As pesquisas auxiliam a tomada de decisão, e algumas têm gerado artigos que, quando divulgados, de alguma forma, os conteúdos suscitam diálogos com outras instituições. Um exemplo é a pesquisa sobre estilos de aprendizagem, que repercute sobre o currículo, o planejamento e a oferta da disciplina. Esse tripé formado pela combinação entre pesquisa, formação pedagógica e desenvolvimento de artefatos pedagógicos exerce um efeito virtuoso dentro do NIP e, ao mesmo tempo, reverbera em toda Escola.

Como surgiram os Ciclos de Inovação Pedagógica para capacitar os professores do Ensino Médio?

M.C.L. – Quando a ESPM precisou fechar o campus, em março do ano passado, fomos chamados pelo presidente da escola, que se revelava preocupado com o impacto do distanciamento físico sobre os estudantes e professores do Ensino Médio, sobretudo das instituições públicas, conhecidamente menos equipadas em termos tecnológicos. Na ocasião, ele nos alertou que, como temos investido muito em programas de formação pedagógica do corpo docente, tínhamos condições de colaborar com os professores do Ensino Médio. Assim sendo, passamos a organizar, divulgar e oferecer atividades similares as que promovemos para os professores da ESPM. Inicialmente, a programação do Ciclo de Inovação Pedagógica concentrava as atividades em uma semana, duas por dia (tarde e noite). Esse formato teve que ser alterado porque muitos professores, apesar de interessados, não conseguiam participar. Passamos intercalar os meses e a distribuir as atividades em dois dias por semana e esses dias variam de ciclo para ciclo. Atualmente, (outubro/2021) realizamos o 5º Ciclo de Inovação Pedagógica, a programação envolve sete atividades e ela são oferecidas toda quarta e sexta-feira, no período da noite. Os primeiros ciclos foram muito pautados em tecnologia e educação, depois evoluímos para métodos colaborativos, e atualmente discutimos temas relacionados ao Novo Ensino Médio. Aplicamos um instrumento de avaliação ao final de cada atividade e prevemos um espaço para o participante registrar temas de interesse. A repercussão tem sido boa, atraímos professores dos diferentes estados da federação, embora prevaleçam docentes originários de quatro deles: São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Minas Gerais. Apesar de a maioria (80%) dos participantes ser vinculada ao Ensino Médio, temos professores do Ensino Técnico, Superior e estudantes de Magistério (20%). Os ciclos têm um efeito muito positivo para a autoestima dos professores, o diálogo é fluído e podemos assegurar que aprendemos muito com eles. Recentemente, a Secretaria de Educação de São Paulo esboçou interesse de usar o material gerado em cada atividade nos programas de formação continuada que promove. Parte desses materiais está disponível no site da ESPM acessando aqui.

Há algum estudo que ateste que o estudante ficou mais motivado a estudar com a implantação pela ESPM de novos métodos de ensino-aprendizagem?

M.C.L. – Comparativamente a seis ou sete anos, a ESPM está muito mais sensível aos desafios da aprendizagem dos estudantes. Mas, nada em educação gera respostas imediatas porque raramente se reduz a relações de causa e efeito. A educação é recheada de desafios, trata-se de um empreendimento muito complexo, que envolve diversas variáveis, nem todas controláveis. Essa atitude de se reconhecer como uma instituição permanentemente disposta a aprender, a fazer melhor, a se superar, é algo que nos faz diferentes. Quanto ao engajamento dos estudantes, acreditamos que é um processo em crescimento. Não existe nenhum milagre, o fato de a Instituição valorizar método ativos não repercute automaticamente sobre os professores, tampouco repercute imediatamente sobre a atitude dos estudantes! Uma das preocupações é valorizar o professor, oferecer melhores condições de trabalho e isso envolve formação pedagógica, suporte técnico, ambientes que favorecem o estudo e a aprendizagem, uma gestão ágil na solução dos problemas etc. Todo esse esforço é para ter professores pedagogicamente mais afinados com o projeto educacional da ESPM e transformar alunos em estudantes. Compreensivelmente, o estudante vem do Ensino Médio com hábitos de estudos escolarizados, necessitam desenvolver hábitos de estudo adequados aos desafios do Ensino Superior, cada vez mais identificado com pedagogias ativas, colaborativas. Isso requer muito dos professores e dos estudantes, leva tempo, esforço e paciência! É por isso que a transformação da cultura pedagógica ainda é mais visível entre os professores. Atingir expressivo número de estudantes requer persistência, as modificações são mais lentas, requerem o envolvimento crescente de professores tutores. Nós temos indicadores que sinalizam mudanças entre professores e estudantes, mas entre os professores elas são mais expressivas. Então, participar do STHEM converge e reforça a visão de que a educação voltada para a aprendizagem é um empreendimento complexo e desafiador, por isso mesmo exige estudo, pesquisa e aprendizado contínuo.