Por Fabio Reis, presidente do Consórcio STHEM Brasil e diretor de Redes de Cooperação e Inovação do Semesp.

Sou licenciado em história, por vontade própria. Entre graduação e doutorado (USP) foram 11 anos contínuos de estudo. Eu tenho orgulho de dizer que sou professor. Durante muito tempo lecionei em turmas do ensino médio e em cursos técnicos e sempre ouvi perguntas semelhantes: “para que estudar história?”, “vamos estudar essas coisas que já passaram e que estão mortas?”, “nós temos de viver o presente, não é professor?”. No Unisal, onde lecionei até o ano passado, sempre dialoguei com meus alunos sobre a importância do ensino da história.

Há no senso comum uma perspectiva de que história é o estudo de algo “morto” e que, por isso, não tem importância. Aprendi que a história nos dá consciência do presente, nos permite compreender o mundo que estamos vivendo, nos traz luz sobre os porquês dos acontecimentos políticos, econômicos, sociais, culturais e tantos outros. Ao mesmo tempo, a história nos permite projetar o futuro e pensar em perspectivas, portanto, a história é viva e dinâmica.

Estamos na semana em que vamos festejar os 200 anos da independência. As datas comemorativas servem para celebrar o acontecimento, mas também para gerar reflexão sobre seu significado. No caso da independência, podemos aproveitar o momento para entendermos a nossa trajetória e o que somos como país. Podemos também refletir sobre como podemos construir um país mais justo, igualitário, democrático, economicamente desenvolvido e inclusivo.

Infelizmente, parece que o estudo da história não está entre as prioridades em nosso sistema de educação. Formamos gerações de jovens que pouco conhecem a sua História. Nossos cursos de licenciatura e a formação de professores precisam ser repensados, e, sem dúvida, necessitamos de políticas públicas assertivas. Vivenciamos um vazio de boas propostas para a educação.

Ao não valorizarmos a história é provável que os cidadãos deem pouca importância aos 200 anos de independência. Em uma perspectiva positiva, provavelmente, poderíamos estar em um momento de festas, debates, reflexões e construção de propostas para um Brasil mais republicano, em que os interesses públicos se sobreponham aos interesses individuais.

Se não conhecemos a nossa história, dificilmente entenderemos o significado da independência e os projetos de país que estavam em discussão, em 1822. Aliás, temo o desconhecimento de outra data comemorativa que está próxima, o 15 de novembro, data em que celebraremos a Proclamação da República. Devemos celebrar e reafirmar: O Brasil é uma República democrática e isso tem seus significados e impactos.

Estamos em um ano de eleição e a educação não aparece como pauta prioritária nos debates políticos. Isto é um erro que irá atrasar possíveis avanços na área educacional. Pobre é o país que tem carência de políticas públicas. Nossos candidatos precisam esclarecer o que pensam sobre temas essenciais para o futuro do Brasil. Temo a perda de oportunidade de discutir o que é essencial e as “fake news” que podem nos induzir para a perda da capacidade de diferenciar o que é real do que é fantasia.

O desconhecimento da história contribui para o avanço das “fake news”, além disso, temos outro agravante, a desvalorização da memória. Se descuidamos do ensino da história e se não valorizamos a memória histórica, provavelmente, teremos problemas com o futuro. A história tem de ser pensada e em muitos casos, reescrita, mas há perigos de cairmos em narrativas distorcidas de um mundo dual, em que só existem as versões da esquerda e da direita.

Sempre respondi para meus alunos que era preciso viver o presente, mas há uma trajetória que nos trouxe até a atualidade. Somos o que somos porque temos uma história, que precisamos conhecê-la, discuti-la e compreendê-la. De forma alguma podemos esquecê-la. A história é viva, foi construída com ideias, projetos políticos e econômicos, entre outros. Eu acredito que muitos dos meus alunos passaram a valorizar e a estudar história com mais interesse e consciência.

Ao celebrarmos os 200 anos de independência, temos de refletir sobre que país queremos, sobre que país construímos e o que vamos fazer a partir de agora, especialmente, em um ano de eleições. Candidatos precisam propor políticas públicas e irem além do discurso vazio sobre a valorização da educação. O 7 de setembro é uma data comemorativa e simbólica, para pensarmos o Brasil. O país precisa de políticos estadistas e que sejam capazes de superar as fragmentações que geram tensões e um provável futuro nebuloso.

No campo da educação, espero que o país intensifique a inclusão na educação e a equidade, que dê oportunidade para todos, sem discriminação, que tenha uma educação que promova a formação de cidadãos com competências e habilidades para desenvolver atividades profissionais, que tenham políticas de financiamento que possibilite acesso ao ensino superior, que valorize a pesquisa e a ciência, que tenha relevância e impacto social e que tenha nas instituições públicas, pessoas capacitadas, éticas e comprometidas com o bem público e com a formulação de políticas públicas para a educação.

Faço o convite para que possamos estudar mais a nossa história, para que valorizemos a memória, para que possamos, como cidadãos, construir um país melhor para todos os brasileiros. Que os próximos anos sejam de prosperidade e de consolidação da Democracia e da República. Espero que as celebrações dos 200 anos da independência reforcem nossa consciência sobre o valor da história.