Por Fabio Reis, presidente do Consórcio STHEM Brasil e diretor de Redes de Cooperação e Inovação do Semesp.

Somos um setor que presta serviços de educação e tem como “causa maior” formar pessoas com senso de cidadania e ética, pessoas preparadas para atuar profissionalmente e com as competências esperadas pelo setor produtivo, com a capacidade de inovar e produzir ciência e novos conhecimentos. O ensino superior forma para a vida, para o trabalho e para o desenvolvimento econômico.

O nosso maior aliado na formação das pessoas é o professor. É ele que deve engajar o estudante em seu processo de aprendizado e manter um diálogo constante com os alunos. É o professor que deve ter conhecimento e método para fomentar o aprendizado e encantar os alunos. Parece ser óbvia a afirmação, mas é verdade: boas escolas possuem bons professores. Ser um bom professor significa estar aberto ao aprendizado constante.

Bons sistemas de ensino superior pelo mundo funcionam pautados em vários fatores: confiança; relacionamento ético entre as IES; cumprimento literal das regras do jogo; busca continua pela qualidade; foco no aprendizado; valorização dos professores; competitividade internacional em políticas públicas e Estado; entre outros parâmetros.

A palavra “bons” pode ter uma conotação subjetiva, mas há evidências de que os sistemas bem-organizados possuem os princípios indicados acima. Podemos citar países que já foram visitados pelo Semesp (Austrália, Finlândia, Dinamarca, Coreia do Sul, Singapura, Canadá, entre outros) como referências de bons sistemas.

Tenho notado um aumento de artigos na imprensa internacional sobre a perda do valor do ensino superior. Há uma percepção de que os jovens tendem a deixar de ter interesse em fazer uma faculdade. São vários fatores apontados pelos analistas: custo, falta de financiamento, medos e incertezas sobre o futuro, problemas de saúde mental, busca por outras opções de formação, horários pouco flexíveis, modelo acadêmicos rígidos, convencionais e ultrapassados, dúvidas sobre o que estudar e se haverá trabalho após o térmico da graduação, entre outros

.Nos Estados Unidos, há pesquisas que indicam um aumento em relação à dúvida sobre fazer ou não uma graduação. Há uma perda de confiança no valor do ensino superior. No Brasil, as matrículas do ensino superior presencial vêm caindo nos últimos. O crescimento do sistema é sustentando pelas matrículas no EAD, modalidade voltada para uma população mais adulta e que já trabalha.

A minha hipótese é que, sim, o ensino superior está perdendo valor na percepção dos mais jovens. Além dos fatores apontados acima, é preciso considerar que os modelos de organização administrativa e acadêmica das instituições de ensino superior impactam nesta percepção do valor. De um lado, temos modelos que valorizam o professor e o aprendizado dos estudantes, do outro, modelos exageradamente convencionais e distantes dos melhores parâmetros do ensino superior. Estes, provavelmente, vão despertar pouco interesse em relação ao ensino superior.

O sistema de ensino superior deixa de ser bom quando há interesses de IES que se sobrepõem à ética, à confiança e ao compromisso com as normas. Talvez, o maior problema do Brasil em relação à perda do valor seja a nossa “inovação limitada” pautada em ajustes e reformas, não na ousadia e na transformação rumo aos melhores parâmetros do ensino superior.

Um sistema de educação tende a se fragilizar se a lógica do mercado prevalecer e for preponderante, já que esta estratégia demanda a geração de altos retornos financeiros para o investidor. É inquestionável o direito ao lucro, mas bons sistemas educacionais não se constroem com preponderância desta lógica, basta ver a literatura e as evidências de outros países.Um sistema se torna bom quando as IES fomentam o aprendizado, valorizam os professores, investem em qualidade, inovação e pesquisa e possuem relevância para a sociedade e para o setor produtivo, além de ter valor social, econômico e político para o desenvolvimento do país.

Bons sistemas de ensino superior são organizados com políticas públicas que atendam as demandas da sociedade. Um sistema de educação precisa gerar empregos, conhecimento, justiça e equidade, entre outros valores sociais e coletivos.

A educação é um bem social. As IES devem existir para gerar benefícios reais e tangíveis. O futuro de nossas IES está atrelado ao bom funcionamento do sistema e ao compromisso com a ética e os melhores princípios do ensino superior.

Caro gestor, organize sua IES para maximizar os ganhos sociais e a formação dos estudantes, consequentemente haverá a maximização de outros benefícios, inclusive, o financeiro.

Sugiro a leitura de dois artigos que escrevi sobre crises, formas de prosperar e o valor do ensino superior:

“Vivemos uma crise de identidade e valor do ensino superior”

Antes de melhorar, vai piorar*