Paulo Blikstein, professor da Escola de Educação da Universidade de Columbia (EUA), e professor afiliado do departamento de Ciência da Computação e do Institute for Data Sciences da mesma universidade, além de doutor em Ciências da Aprendizagem pela Northwestern University e mestre pelo MIT Media Lab, encerrou nessa segunda-feira (5) o último webinar da série “Como será a educação superior pós Covid-19?”, que o Consórcio STHEM Brasil vem realizando em parceria com o Semesp. “Como construir universidade de ponta para os desafios do Brasil no mundo pós-Covid-19” foi o tema de sua exposição.

Blikstein defendeu que o Brasil tem poucas universidades de ponta, mas que as que existem são de boa qualidade e “custam pouco”, comparando o modelo brasileiro com o americano, e que é preciso um esforço conjunto de todas as instituições de ensino superior, públicas e privadas, para que se construa uma base de conhecimento para que, no topo da pirâmide nacional de produção de conhecimento, tenhamos qualidade e excelência para enfrentar os desafios que temos pela frente.

“Com a pandemia vimos que a Ciência é fundamental para manter um país funcionando no século 21 e as universidades que mantêm pesquisas em diversas áreas do conhecimento são uma reserva estratégica em um mundo globalizado, que tem suas limitações. Quando um país tem o conhecimento de uma vacina para conter um vírus, por exemplo, ele primeiro atende a seu país para depois exportar esse conhecimento. Nós temos que ter essa reserva estratégica dentro do Brasil”.

Segundo o educador, “como a ciência é cara, exige investimento na formação de doutores e pós-doutores que irão trabalhar em núcleos e serão capacitados para criar projetos e captar recursos, não só dos Governos, mas de empresas e fundações do mundo todo para suas pesquisas”, explicou. Por essa razão, Blikstein disse que “erra a instituição que não investe em pesquisa porque acha que pesquisa é cara e é só despesa. Na verdade, nos EUA e na Europa a pesquisa é fonte de recursos financeiros para as universidades, e não gasto. Além disso, ela é fonte de recursos humanos e sociais, com benefícios imensos, como fortalecimento da marca da instituição, melhora na qualidade de seus professores e do ensino”.

Outro erro cometido no país é quando se compara o custo investido em cada  aluno em uma universidade de ponta e uma instituição que não tem pesquisa. “A USP tem 97 mil alunos e R$ 6 bilhões de orçamento, portanto poderíamos pensar que cada um representa um custo de R$ 60 mil. Mas isso não é exatamente verdade porque cerca de 50% do orçamento vai para pesquisa e serviços, resultando em um custo por aluno muito mais baixo. Muitas vezes se diz que o aluno do ensino superior custa 10 vezes mais que no ensino básico, mas essa comparação não faz muito sentido porque a universidade faz muito mais que ensino de graduação. Claro que temos de ter um ensino básico de qualidade, mas o ensino superior pode caminhar junto e inclusive ser uma força para melhorar a gestão, eficiência e qualidade do ensino básico, principalmente fazendo pesquisa sobre novas pedagogias e tecnologias para a aprendizagem”, disse Blikstein.

Outro ponto levantado pelo educador foi em relação à captação de recursos para produção acadêmica, que no exterior provém de várias fontes e aqui no Brasil, só do Governo e de mensalidades. “O MIT mantém 11 mil alunos por meio de recursos que são captados de 5% a 10% de fundos patrimoniais, 10% das mensalidades, 67% de fundos públicos e 5% de empresas, o que soma US$ 2,2 bilhões. Já na Unicamp, por exemplo, são US$ 1,1 bilhão de recursos para atender o triplo de alunos, 35 mil, com o mesmo número de funcionários e professores. A UNICAMP tem a metade do orçamento para o triplo de alunos. E o resultado dessa disparidade orçamentária é que enquanto o MIT pode contratar 5 mil pós-doutores, a Unicamp pode contratar apenas 270. Isso faz com que o MIT possa produzir muito mais, claro”, comparou.

Blikstein falou também sobre o ensino remoto emergencial e o EAD. “A educação a distância não é necessariamente a mais barata, ela requer mais tecnologia, equipes de TI maiores, aulas preparadas com antecedência, professores capacitados. E não é possível se fazer um ensino de qualidade pegando um modelo emergencial, que exigiu esforço sobre-humano de professores e manter assim pós-pandemia. Não podemos precarizar o ensino ainda mais. Uma coisa é investir em um modelo de curso online onde se investe o mesmo que iria para um curso presencial com a prioridade de manter a qualidade. Outra coisa é cortar custos em 80%, demitindo doutores, e baixar mensalidades em 30%”, alertou.

E finalizou orientando as IES a redesenharem seus modelos de ensino. “Nós temos de ter um olhar cívico para o futuro dessa geração, e não formar pessoas de qualquer jeito. Aproveitar o momento para redesenhar nosso futuro. Por exemplo, as IES poderiam colocar nas suas agendas a criação experimental de núcleos focados de pesquisa, monitorá-los por cinco anos, ver o que acontece. E lá na frente vamos ver o surgimento de um ecossistema muito mais poderoso de inovação, onde nossas universidades possam absorver doutores, criar novos programas, fazendo C&T e puxar para cima todo o sistema de ensino, inclusive o básico”.