O Consórcio STHEM Brasil divulgou nesta quinta-feira (19) uma pesquisa sobre a implantação do ensino hibrido nas IES. Os resultados do estudo foram apresentados pela diretora de inovação acadêmica da Faculdade Santo Ângelo (FASA), Ana Valéria Sampaio de Almeida Reis, durante o painel “Panorama do Ensino Híbrido: concepções difusas, busca de consensos e perspectivas”, do 5º seminário “O Futuro do Ensino Superior”, realizado pelo Semesp, com o apoio do consórcio.

“Fizemos uma pesquisa interna para sentir em que momento estamos nessa discussão sobre a implementação do ensino híbrido, e descobrimos que talvez ainda não o estejamos fazendo como se deve. É preciso provocar discussões entre as instituições, para uma mudança também no EAD. O foco do STHEM Brasil, fundado em 2014, e que hoje possui 64 IES consorciadas, é a inovação acadêmica, e o ensino híbrido está na pauta do consórcio. Temos de ter o melhor engajamento possível de nossos professores e alunos e seguir as várias premissas para alcançarmos, enfim, o nosso propósito”, disse o presidente do consórcio Fábio Reis.

“A pesquisa foi respondida por gestores educacionais das 64 instituições consorciadas (84,6% privadas e 15,4% públicas), sendo que somente 39 a responderam, ou seja, 64% delas, de 11 estados do país”, disse a diretora Ana Valéria Sampaio de Almeida Reis. As 39 IES representam em totais de cursos 1.675 de graduação, 1.594 de pós-graduação lato sensu e 88 de pós-graduação stricto sensu, em que 48,7% são centros universitários, 30,7% faculdades e 20,6% universidades. Dentre o total de IES, 37,4% têm cursos presenciais, 62,6% EAD e reúnem 15,5 mil docentes e 837,4 mil alunos.

Das 39, apenas 28 responderam que adotam o ensino híbrido. “72% das respostas foram afirmativas para o ensino híbrido e 28% foram negativas. Desse percentual que aplica o ensino híbrido, 402,6 mil alunos foram impactados”, alertou Ana Valéria. “94,4% dos respondentes acreditam que o ensino híbrido é o futuro da educação do ensino superior. E o que impulsionou essa percepção nos gestores foram: a pandemia; o avanço tecnológico, os modelos pautados por competências, a geração digital, a flexibilização de rotinas e o aluno como protagonista”, detalhou a diretora de inovação da FASA.

Quando os gestores foram questionados sobre propostas e estratégias de ensino híbrido adotadas por suas instituições, 75% indicaram como estratégia a modelagem orientada tanto por disciplina quanto por competência, 86% responderam que integraram momentos presenciais e EAD em cada curso, módulo ou componente disciplinar, e apenas 14% fizeram um Mix entre presencial e EAD, independente da forma de operacionalização, devidamente concebido e descrito no Projeto Pedagógico do Curso”. Já nas estratégias, 85,7% das IES revelaram a utilização de estratégias diferenciadas de ensino híbrido, divididas da seguinte forma: 54% em flexibilização curricular, com espaços presenciais e EAD; 25% em modelagem pedagógica específica; 20% em emprego de metodologias ativas e 5%, respectivamente, em implantação de projetos integradores e diversificação das atividades acadêmicas.

Recursos Tecnológicos

No quesito recursos tecnológicos mais utilizados pelos docentes, “96% das IES relataram que oferecem recursos tecnológicos, sendo os mais usados no on-line com recursos específicos de webconferência (100%), biblioteca virtual (85,7%), recursos educacionais abertos (75%), recursos específicos para enquetes/quiz (71,4%), recursos de laboratório virtual (60,7%), realidade virtual (17,9%), mista e aumentada, ambas com 7,1%”, detalhou a educadora.

A pesquisa detalhou ainda os recursos de Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) mais utilizados pelos docentes: Moodle (39,3%), Canvas (28,6%), outros (21,4%), Google Classroom e Blackboard (ambos com 10,7%) e desenvolvido internamente pelas IES (7,1%).

Avaliação 

Na questão sobre se a instituição usa ou não um modelo específico de avaliação, a pesquisa mostrou que 46% responderam afirmativamente, mas 54% responderam negativamente. O modelo mais usado para avaliação é o AVA (25%). E quando o processo de avaliação da aprendizagem no modelo híbrido é separado entre presencial e não presencial, o que se destaca no presencial é avaliação por projetos (69,2%), avaliação individual no modelo de questões objetivas e dissertativas (61,5%), avaliação em grupo (46,2%) e estudo de caso (3,9%). Já no não presencial, a avaliação individual no ambiente virtual no modelo de questões objetivas e questões dissertativas fica com 75%, avaliação por projeto (14,3%), avaliação por rubrica e avaliação em grupo (ambos com 7,1%) e outros instrumentos (3,6%).

Formação e capacitação de professores

O estudo mostrou ainda que 93% das IES respondentes investem na formação e capacitação contínua do docente, mas 7% ainda não. Dentre os desafios da capacitação docente aparece em destaque, com 64,3%, a mudança de cultura dos professores, seguida pelo letramento digital (21,4%), atuação tanto no presencial quanto no EAD (7,1%), disponibilidade de tempo do professor e a contemplação das necessidades de cada área de conhecimento (ambos com 3,6%).

Entre os principais fatores críticos para o sucesso do ensino híbrido, segundo os gestores, estão: capacitação de professores (42,9%), inclusão digital para professores e alunos em relação ao domínio de tecnologia (32,9%), engajamento de alunos, professores, coordenadores (31,8%), cultura institucional (27,7%), planejamento e gestão integrada entre as áreas acadêmicas, presencial e EAD (22,7%), a compreensão de conceitos – conceitos claros – (13,6%), responsabilidade do aluno para o autoestudo (4,6%), resistência e aceitação entre alunos e professores (4,6%), acompanhamento do professor e do aluno (4,6%).

Em continuidade a esses fatores, a pesquisa detalha também os desafios específicos com o docente, para a implantação do ensino híbrido: mudança de cultura e saída da zona de conforto (ambos com 28,6%); capacitação docente, com metodologias e ferramentas adequadas (21,4%); engajamento e conexão do aluno com o professor (14,3%); recursos adequados e gestão do tempo (ambos com 7,1%) e qualidade de formação, conectividade com o mercado e distribuição adequada da CH EAD (com 3,6%).

O Panorama do Ensino Híbrido identificou também a satisfação dos alunos com essa forma de ensino. 71% aceitam o ensino híbrido e 29% ainda não. Desse total, 72,1% declaram boa aceitação, 18,1% acham excelente e 9,1% demonstram baixa ou nenhuma aceitação.

As conclusões da pesquisa mostraram que “cada uma das instituições respondentes tem o seu próprio ritmo de mudança e implementação de um novo modelo de ensino e aprendizagem e, ao mesmo tempo, nas respostas também apareceram interpretações diferentes sobre o que se entende sobre ensino híbrido. Percebe-se que há necessidade de aprofundamento no conceito sobre o que é o ensino híbrido e como ele se organiza, e planejamento para o alinhamento das matrizes, do modelo educativo e das práticas avaliativas.

A equipe que tabulou os dados da pesquisa também apontou algumas perspectivas com base nos resultados apresentados que confirmaram que a positividade nos processos de transformação dentro das instituições consorciadas é decorrente das formações ofertadas pelo STHEM Brasil.

Ao encerrar, Ana Valéria posicionou-se quanto ao “movimento do ensino presencial” para o híbrido, para uma educação baseada em competências, o que gera uma aprendizagem profunda, com uma avaliação autêntica e com orientação à prática. Para uma educação flexível e onipresente. Para impulsionar a motivação e o compromisso dos estudantes, considerando a forma como aprendem. Para brindar a educação integral que considera as emoções e a saúde dos estudantes. Para reduzir brechas entre a universidade e o mercado de trabalho. Para redefinir os espaços de aprendizagem e os entornos educativos. E que nesse retorno, pós-pandemia, melhorias na prática docente e mudanças na experiência dos estudantes serão pontos de atenção permanentes.

Thuinie Daros, Head de Cursos Híbridos e Metodologias Ativas da Unicesumar, enfatizou que a pesquisa destaca quatro pontos principais. “A experiência do aluno é o primeiro ponto, para compreender que a sala de aula física como único espaço legítimo de aprendizado não se sustenta mais hoje. A sala de aula é um mundo para se pensar em modelagens híbridas e arranjos mais flexíveis para o aluno ser capaz de aprender. O segundo ponto é entender que o ensino híbrido está acompanhando o mindset da transformação digital, buscando se diferenciar na experiência do aluno, com um novo perfil cognitivo, social e emocional, que vai ao encontro da transformação digital e não se trata meramente de um aparelhamento tecnológico, e, sim, um pensar de forma interligada. Hoje, o uso da tecnologia dentro do mindset digital promete reduzir o planejamento de tempo do professor e da gestão em 30%. Olhando para os indicadores que as tecnologias possibilitam, torna as atitudes mais assertivas. O terceiro ponto é que é preciso aprender abordagens híbridas diferenciadas, integrando o modelo on-line e off-line. E o quarto ponto, cuidar da experiência dos alunos, para potencializar ao máximo a aprendizagem. Esse deve ser o foco principal do docente, que deve ser um designer e a sala de aula um ateliê de aprendizagem, para criar experiências e modelagens pedagógicas simples e eficazes”.

Leticia Silva Garcia, Coordenadora Acadêmica da Área de Tecnologia da Informação e do Núcleo de Apoio a Inovação Pedagógica da Faculdade Dom Bosco, chamou a atenção dos gestores para a importância da capacitação dos docentes, não apenas no que tange ao conteúdo desta, mas principalmente no que diz respeito a torná-los cada vez mais protagonistas das experiências de aprendizagem projetadas para os alunos. Junto com os alunos, todos os espaços se tornam ambientes de aprendizagem e, para poder construir e conduzir essas jornadas de aprendizagem de forma eficiente, o professor precisa se sentir o centro da IES, uma vez que ele é o condutor da atividade fim desta. Cabe à IES estabelecer políticas e práticas que promovam a mudança de postura do professor, conduzindo-o para fora de sua zona de conforto.

Carlos Fernando de Araújo Jr, diretor Acadêmico de Educação a Distância da Cruzeiro do Sul Educacional, encerrou o painel, sugerindo uma ampla discussão. “O momento de transformação digital, social, e da própria pandemia exige que as IES sigam em busca de  formas diferenciadas de ensino híbrido. Colocar em discussão o que é o ensino híbrido, se é uma metodologia ou modalidade, se podemos utilizar de diversas formas, no presencial ou no a distância. A sugestão é pensar em uma perspectiva transdisciplinar”.