“O Admirável Futuro da Educação Superior”, novo evento realizado em parceria entre o Semesp, Sthem Brasil, Universidade de Coimbra, University Design Institute – ASU e Tecnológico de Monterrey, trouxe novas discussões em seu segundo dia, que aconteceu nesta quinta-feira (27). O evento foi aberto pela presidente do Semesp, Lúcia Teixeira, e pelo ministro da Educação, Victor Godoy.

Lúcia Teixeira reforçou mais uma vez a importância da realização do evento e da discussão de temas que sinalizam cenários futuros para a educação. Já o ministro Victor Godoy Veiga destacou a relevância de questões como inovação e boas práticas. “São temas fundamentais diante dos desafios que temos pela frente como o conceito de flexibilidade exigido pelas mudanças cada vez mais rápidas e das novas profissões de futuro’, salientou.

O ministro disse ainda que as modificações no ensino dependem de processos regulatórios. “No Ministério da Educação estamos agilizando as comissões de avaliação para trazer mais segurança, transparência, diminuir os processos regulatórios que tínhamos em estoque, mais de 20 mil e hoje temos algo em torno de 8 mil . Também os novos sistemas E-MEC e E-Cebas vão evitar a burocracia da educação brasileira e facilitar a vida das instituições, além do trabalho de aprimoramento da divulgação do Enem para agilizar os processos seletivos”.

Boas práticas

Já durante a sessão 1 do evento, com o tema “Boas práticas de inovação acadêmica”, participaram José Moran, professor, pesquisador e designer de projetos inovadores na educação com ênfase em valores, metodologias ativas, modelos flexíveis e tecnologias digitais;  Paula Duarte Lopes, pesquisadora e professora da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra; Fabio Carvalho, gestor de Relações Acadêmicas do Grupo Dom Bosco – UNDB; e moderação de Mauricio Garcia, conselheiro Acadêmico do Inteli.

O professor José Moran lembrou do projeto Escola do Futuro onde trabalhou por 30 anos e citou projetos de várias instituições que estão em constante inovação. “Trabalho há décadas com inovação. Comecei com o projeto Escola da Futuro há 30 anos, passei pela docência, pesquisa e práticas. Hoje pensar no futuro do ensino superior passa por um olhar do que se realizou e o que ainda falta fazer. A participação do Consórcio STHEM Brasil quando começou em Lorena a trabalhar com metodologias ativas foi um choque cultural. A cada ano a troca de experiências entre professores fez com que as práticas mudassem. Começou pela atitude individual de professores mais avaliados, avançou pelos parceiros dos consórcios e essa troca anual, evoluiu para o trabalho em grupos de forma multidisciplinar. Foi se criando uma cultura nova que impactou o currículo que começa a sair da forma disciplinar para modular. Os projetos saíram do papel e foram para a prática com as parcerias entre organizações e estamos agora na última fase que é do impacto de boas práticas que levam as IES a começarem a trabalhar em rede. É uma tendência que está se consolidando e vai trazer uma mudança individual para a coletiva”, afirmou.

Em seguida ele citou os projetos inovadores como o Descomplica Uniamerica, um modelo híbrido com salas adaptadas onde os professores funcionam como mentores e ajudam os alunos a criarem projetos para atender as necessidades da comunidade; o Escola 42, que trabalha por meio da gameficação projetos de engenharia digital; o Mecratrônica do Insper, onde os alunos trabalham a mão na massa tanto em projetos individuais quanto coletivos; o Ecossistema da Ânima, que trabalha metodologias ativas com incentivo à experimentação dos alunos em unidades curriculares e o Tecmilênio, que trabalha pensando no ecossistema, na flexibilidade do currículo, e com a filosofia e a psicologia positiva, e a realização da felicidade do aluno.

A professora Paula Duarte Lopes deu ênfase ao Projeto Erasmos, da Universidade de Coimbra, que é realizado com um mapeamento de boas práticas de ensino internacionais, transformado em documento e serve de guia para os professores em sua evolução pedagógica. “Parece muito importante que a evolução pedagógica está muito mais disseminada e que muitas IES estão inovando, mas as questões que temos de responder nessa dinâmica é por que estamos inovando, qual o resultado que queremos atingir com as práticas inovadoras e o que os nossos estudantes esperam em termos quantitativos e qualitativos. Hoje em dia não apenas ensinamos os estudantes, mas  temos de dar o caminho para que eles ativem os conhecimentos. Para isso eles não podem fazer com práticas antigas, mas com inovação, É um processo sempre inacabado, temos de sempre inovar e continuar a inovar”, pontuou.

Por fim, o professor Fabio Carvalho, da UNDB, de São Luís do Maranhão, explicou como funciona a Escola de Negócios da instituição. “Criada em 2018, a Escola de Negócios é um modelo híbrido, com aulas presenciais e on-line. É um projeto integrador, onde modulamos o currículo por competências e temos rubricas de avaliação tanto para alunos quanto para professores. O diferencial é a tropicalização do design thinking e a construção de um projeto de vida para o aluno que cria a própria startup.Temos convênios, como com o do Porto de Itaqui e os projetos são desenvolvidos pelos alunos, os professores apoiam. É uma mudança no mindset e com apoio da instituição. Na UNDB falamos sempre no protagonismo do aluno”, concluiu.

Ensino híbrido

A segunda sessão do dia contou com as participações de Elsa Beatriz Palacios, diretora de Inovação Educacional e Aprendizagem Digital do Instituto Tecnológico de Monterrey, do México e de Dale Johnson, diretor de Inovação Digital da ASU University Design Institute, IES localizada no Arizona, Estados Unidos. Os dois apresentaram suas visões sobre boas práticas de inovação acadêmica em modelos de ensino híbrido.

Elsa Beatriz Palacios defendeu que as instituições de ensino superior precisam ampliar seus papéis para impactar de forma positiva a sociedade. Segundo ela, as IES precisam ser catalisadoras de tecnologias e de soluções para problemas reais da sociedade. “As IES precisam entender melhor as diferentes formas de tecnologia para saber como elas podem ser utilizadas em prol da educação”, afirmou.

Para Elsa Beatriz não é possível utilizar todas as tecnologias para tudo, e as IES precisam entender isso para melhor aproveitar os benefícios dos avanços tecnológicos. “É importante que as IES entendam como integrar a tecnologia à educação sabendo com consciência como utilizá-la para desenvolver a questão da aprendizagem e aumentar a sinergia entre universidades e empresas”, avaliou. “São muitas as tecnologias que podemos implementar na educação, a depender das várias formas de entrega possíveis. O principal avanço que a tecnologia pode trazer para a educação é a personalização da aprendizagem”, decretou ao citar uma série de ações e iniciativas que o Tecnológico de Monterrey já toma em direção a esse sentido.

“As IES devem criar novos modelos educativos que atendam as demandas da sociedade, em especial perante o ritmo acelerado de mudanças. Precisamos assegurar o desenvolvimento de nossos alunos para que estes adquiram as competências e habilidades demandadas pelas profissões do futuro”, complementou Elsa.

O diretor de Inovação Digital da ASU University Design Institute, IES estadunidense considerada umas das mais inovadoras do país, Dale Johnson explicou como a IES mudou o foco de aulas expositivas para a resolução de problemas, um novo modelo que trouxe benefícios tanto para estudantes como para docentes. Segundo ele, os desafios para fazer mudanças são grandes, mas os novos modelos híbridos adotados pela universidade têm assegurado o êxito dos estudantes. “Eliminamos as aulas expositivas e focamos nos trabalhos em equipe”, lembrou ele decretando que o sucesso dos modelos híbridos não dependem da tecnologia e sim dos docentes.

Para apoiar os docentes para que essa transformação seja bem sucedida, as IES precisam adotar uma série de mudanças. “Primeiro, os docentes precisam de programas de capacitação e de equipes de apoio. As IES devem também oferecer a eles uma infraestrutura tecnológica adequada e integrada, além de que todas as suas lideranças estejam alinhadas e compartilhem dessa mesma visão cultural transformadora”, prosseguiu. “Os docentes também precisam de tempo. Leva tempo para que esse tipo de transformação aconteça”, disse ele. “A tecnologia é um importante meio para o sucesso do aluno e para o estreitamento das conexões entre IES e mercado de trabalho, mas não é ela que resolve tudo, e sim a pedagogia. As IES precisam ter consciência de que é preciso um equilíbrio entre esses dois elementos: pedagogia e tecnologia”, concluiu.

Ao longo do segundo dia de “O Admirável Futuro da Educação Superior” foram exibidos mais vídeos dos finalistas da 2ª edição do Prêmio de Inovação no Ensino Superior Prof. Gabriel Mario Rodrigues, que será entregue nesta sexta (28). Nos vídeos, os finalistas apresentam seus projetos. Confira todos os vídeos aqui.