“Inteligência Artificial, chatbots e translanguaging, com foco em ferramentas cada vez mais inteligentes” foi o tema da palestra que fechou o segundo dia da VIII Semana de Formação do Consórcio STHEM Brasil nessa terça-feira (25), com Agnes Kukulska-Hulme, professora de Tecnologia de Aprendizagem e Comunicação no Instituto de Tecnologia Educacional da The Open University, onde lidera o Programa de Pesquisa e Inovação em Aprendizado do Futuro e a série de relatórios de insights de Pedagogia Inovadora.

Agnes falou sobre Inteligência Artificial (IA), que hoje, além de ser utilizada em várias áreas como saúde, finanças, marketing, direito, entre outras, é cada vez mais usada na educação. “Por trás da Inteligência Artificial estão processos como tradução automática, anúncios personalizados e reconhecimento facial. Os sistemas de IA imitam as habilidades e comportamentos humanos. A grande questão na área de educação é: os professores robôs irão substituir os professores humanos? E as aplicações de IA podem ser benéficas para alunos e professores na personalização de percursos de aprendizagem e avaliação automática de escrita?”, questionou Agnes.

Segundo a educadora, a Open University pesquisou a IA no relatório de 2020. “Pensamos na inovação e nas tecnologias que possam facilitar os aprendizes e o uso da IA dentro da educação. No passado, a IA era reservada somente aos especialistas. Hoje, todos precisamos entender o que é a IA, porque ela é utilizada em vários domínios, em sistemas implementados em várias áreas do conhecimento. Como exemplos podemos citar a tradução, os anúncios personalizados, o reconhecimento facial e esses sistemas imitam comportamentos humanos”, disse.

Para Agnes, a IA precisa ser um caminho de aprendizagem na instituição. “A aplicação da IA deve ser utilizada para o benefício de alunos e professores, personificando caminhos de aprendizagem e fornecendo aos alunos o reconhecimento de uma melhor jornada, disciplina e curso. Outro exemplo seria o uso da IA na avaliação automática da escrita ou da redação, pois a IA pode corrigir uma redação junto com o professor ou ir além do professor tendo uma função complementar”, afirmou a palestrante.

Mas a educadora alerta sobre como usar e pensar a IA no futuro. “Quais as habilidades que o aluno precisará ter para fazer uso da IA? Definimos cinco delas: criatividade, colaboração, curiosidade, compaixão e pensamento crítico, mas será que os sistemas inteligentes vão conseguir exercer todas essas habilidades, ou algumas delas serão mesmo puramente humanas?”, ponderou a professora.

Em seguida Agnes especificou a importância do uso de chatbots e ferramentas multilíngues de tradução, o Translanguaging, na educação: “No relatório de 2021, que ainda estamos escrevendo, pesquisamos os chatbots, que são usados para interagir com os usuários por meio de texto (ou voz) e conectá-los a conteúdos como vídeos e imagens; interpretar o que o usuário diz e tentar achar uma resposta adequada (usando uma árvore de decisão simples ou um processamento mais inteligente); oferecer um serviço, como mostrar um processo passo a passo, ajudar a analisar seu problema, praticar um diálogo, mostrar uma gama de produtos, pensar sobre alguma coisa que aconteceu; oferecer a funcionalidade de chat, como por exemplo para diversão e suporte emocional ou encaminhar o usuário para falar com um atendente real”, disse.

No entanto, segundo Agnes, no uso específico da educação é preciso ter em primeiro lugar disponibilidade: “Quando um professor não está disponível, ou não pode ajudar, os alunos ainda assim poderão fazer algum progresso. Em segundo lugar, ter motivação, que é o foco nas necessidades individuais dos estudantes para melhorar a motivação para aprender. Em terceiro, dar atenção as preferências, quando alguns alunos preferem perguntar a um chatbot para ter mais autonomia e, por fim, ter a prática de competências. Em quarto lugar, criar uma forma de os alunos praticarem em várias disciplinas, por exemplo na Saúde, no Direito, na aprendizagem de idiomas, ou ainda uma forma de praticar a resolução de problemas ou tomada de decisões e construir, talvez, o próprio chatbot. E em último lugar fazer uma reflexão sobre a própria aprendizagem, nos processos de resolução de problemas e nas limitações dos chatbots”.

Contudo, há limitações para o uso de chatbots na educação. “Pode haver mal-entendidos, o não reconhecimento do estado de humor ou as emoções do aluno, a falta de controle em relação à privacidade de dados, devido à produção automatizada de conteúdo, e pode haver conteúdo incorreto quando já não é fácil diferenciar se estamos falando com uma máquina ou uma pessoa”, constatou Agnes.

A professora da Open University explicou também que as ferramentas multilíngues de tradução, os Translanguaging, são poderosas porque permitirem que estudantes bilíngues se movam de forma mais flexível entre dois idiomas, unificando a aprendizagem. “Translanguaging considera as práticas de idioma de pessoas bilíngues como normais em vez de incomuns, porém as escolas e universidades muitas vezes esperam que os alunos usem um idioma específico,  o que pode frear alguns alunos e evitar que eles se expressem plenamente. Algumas boas práticas sugeridas para o uso dessas ferramentas são: identificar parceiros bilíngues que podem ajudar um ao outro; colocar atividades nas quais as crianças podem usar o outro idioma; encontrar materiais ou recursos multilíngues; usar chatbots multilíngues e ferramentas de tradução para apoiar a comunicação”, afirmou.

Por fim, a educadora citou dois exemplos produzidos na Open University. “Exploramos os chatbots na Faculdade de Direito. Os alunos desenvolveram um chatbot, com a ajuda de uma empresa externa, para dar apoio ao público com questões jurídicas sobre abuso doméstico e suporte jurídico. Os alunos de Direito tiveram que pensar que perguntas as pessoas fariam e quais as respostas dariam e com isso aprenderam mais sobre Direito e a criar recursos únicos para educar as pessoas sobre a matéria”, contou Agnes.

Outro chatbot, ainda em curso, foi a criação de uma ferramenta para ajudar alunos com deficiência. “Muitos deles precisam preencher formulários, e esse chatbot pode ajudá-los a finalizarem o preenchimento de um formulário. Estamos desenvolvendo essa ferramenta para dar apoio a alunos com diferentes tipos de deficiência e já há interesse de outras universidades nesse sentido”, finalizou.