Entrevistamos o vice-presidente de Operações da IMED, William Zanella, que nos conta como a instituição mudou o paradigma de seu sistema de educação, de ensino para aprendizagem, focado de professor para aluno. A revolução aconteceu com o emprego de metodologias ativas aprendidas por docentes e gestores institucionais nas formações do STHEM Brasil e também no processo de mudança e reestruturação do Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) e das matrizes curriculares.

Com evasão baixíssima, mesmo durante a pandemia, a instituição do Rio Grande do Sul, que conta com cerca de 5 mil alunos e 460 colaboradores, sendo 250 docentes contratados, teve crescimento nas matrículas presenciais. Com dois campi em operação, em Passo Fundo e Porto Alegre, a IES pretende inaugurar mais dois no próximo ano, em Erechim e Ijuí, e estar presente em todas as nove principais cidades do estado. É uma das poucas instituições que mantém um crescimento e seu tiquet médio é um dos maiores do mercado.

1 – Desde quando a IMED é consorciada ao STHEM Brasil?

William Zanella:  A nossa ida para o consórcio aconteceu em 2016, quando um dos nossos gestores teve contato com o presidente do consórcio, Fábio Reis. Na sequência começamos a participar da formação em Lorena, e desde então encaminhamos todo ano nossos docentes e gestores institucionais para as formações com o objetivo de dar continuidade à transformação que a instituição vem fazendo.

2 – Quais as vantagens de se associar ao STHEM Brasil?

WZ: Quando nos associamos ao STHEM Brasil, queríamos estar por dentro das tendências do mercado da educação superior e ter os melhores insights, coisas que o consórcio possibilita. Outro motivo é que participar do consórcio é bom para a marca da instituição, porque acaba mostrando que ela está atualizada, e à frente sobre diversas questões, como os documentos institucionais, por exemplo, porque o consórcio proporciona que a instituição faça parte de movimentos de inovação e todos esses movimentos do Ministério da Educação (MEC) que contam pontuações extras quando se trata de inovação. Há um terceiro aspecto, que é o networking que essa rede proporciona. A instituição faz trocas muito boas: podemos implementar de forma acelerada experiências que estão rodando em outras instituições, cortando caminho e evitando erros que outra IES já cometeu. O quarto elemento foi uma escolha nossa, e não de todas as instituições, que é mesclar a formação de gestores institucionais e de professores para fazer a transformação do ensino. Na nossa instituição, todos estão com esse olhar de futuro e dando passos do que se pode fazer hoje para ir em direção a esse movimento, que de fato é mudar o foco do ensino para a aprendizagem e do professor para o aluno. Enfim, fazer essa transformação com uma série de ferramentas que são introduzidas e que facilitam esse processo. Na verdade, o que está por trás é uma mudança de paradigma, e quando nossos profissionais voltam dessas formações e trocas, os docentes fazem as suas tentativas de acertos e erros de implementação das metodologias ativas, e ainda realizamos fóruns internos para que eles sejam replicadores dessa aprendizagem para o restante do corpo docente.

3 – Quantos docentes já passaram pelas formações do consórcio STHEM?

WZ: Desde 2016, foram 37 docentes e gestores enviados para as formações anuais.

4 – E quantos professores foram impactados pelas capacitações?

WZ: Foram 367 docentes impactados indiretamente, por meio dos workshops que a instituição realiza, com a participação dos que estiveram nas formações do consórcio.

5 – Em 2018, a IMED mudou seu PDI pensando em instituir metodologias ativas em seus cursos e, em 2019, a instituição atualizou sua matriz curricular. O que mudou na estrutura das aulas e dos cursos, e como foi esse processo?

WZ: A mudança começou pelos gestores, mudando o paradigma da instituição, incluindo as metodologias ativas, o empreendedorismo e o ensino híbrido como os três pilares. E a partir desses pilares os gestores foram desdobrando isso para as matrizes curriculares e para os planos de ensino, para que pudessem trocar não só os documentos mas, no dia a dia dentro de sala de aula, seja em aulas presenciais ou por zoom, que é a ferramenta on-line que usamos. Mudamos o Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI), as políticas pedagógicas, depois fizemos alterações das matrizes curriculares, modernizando muito o sistema de ensino, incluindo os desafios que muitos chamam de projetos integradores, e a integração entre os cursos é um grande elemento. Por exemplo: o aluno de Medicina tem aula com um aluno de Engenharia Mecânica. Um aluno de Psicologia programa com um aluno de Ciências da Computação. Então é uma quebra de paradigma o aluno ter o domínio do conhecimento técnico para a formação, mas precisar ampliar os horizontes da sua formação fazendo essa troca, porque no mundo do trabalho e no mundo empresarial ele vai precisar fazer essa integração. O resultado é muito significativo. Esse pilar do empreendedorismo trouxe um resultado muito prático, que é estarmos hoje próximos de 25% dos nossos ex-alunos com um CNPJ vinculado ao seu CPF. São empreendedores, dos mais variados portes, e esses insights nós tiramos do consórcio, que é fazer uma transformação do nosso produto e do nosso processo de ensino que vai dar resultado lá na ponta, com o aluno. O resultado foi extremamente relevante e nos surpreendeu, porque nós nem fazíamos essa medição, e agora passamos a ter um processo de medir quantos alunos estão empregados nas empresas com as quais temos parcerias, e que estão entre as mil maiores da revista Exame. Depois contabilizamos quantos alunos estão com os CNPJs ativos, o que mostra a materialização do ensino, que é difícil de ser feita.

Avançamos, então, para a mudança das matrizes curriculares fechando na graduação e ampliando para o stricto sensu, para os nossos programas de mestrado e de doutorado com a mesma pegada: projetos institucionais passando pelas diversas linhas de negócios. Mas o stricto sensu é bem peculiar e tem todo um arcabouço jurídico, um regramento da Capes que em um primeiro momento parecia distante, mas fomos modelando para poder ter os mesmos elementos de aprendizagem, e com a preocupação da trabalhabilidade desse aluno dentro das nossas matrizes curriculares e nos mais variados níveis. E agora estamos em uma terceira etapa, que é a partir do perfil do aluno e do docente: olhar para a nova configuração do trabalho e identificar que características, habilidades e comportamentos os alunos e os docentes precisam ter. Estamos fazendo todo um mapeamento para visualizar, não apenas institucionalmente, mas curso a curso, que elementos precisamos desenvolver em nosso corpo docente, ou que elementos importantes tenhamos de explorar ainda mais para entregarmos uma formação mais adequada ao mercado de trabalho.

6 – Quais os projetos instituídos na IMED que foram inspirados nas formações do STHEM Brasil?

WZ: Por meio das ferramentas que aprendemos nas formações do consórcio, nós fomos criando alguns elementos. A partir de 2014, quando adotamos um ensino mais híbrido como um movimento, nós implementamos um LMS para todos os alunos, e fomos acrescentando características ou elementos para que tanto o corpo docente como o corpo discente usassem mais ferramentas. Nós olhamos também para a infraestrutura e fomos readequando. Um exemplo: criamos para os docentes os LMIs, laboratórios de metodologias inovadoras, que era um momento onde eram testadas novas formas de aprendizagem. Então tínhamos fablab, uma arena para que alunos e professores pudessem usar outras formas de aprendizagem, e outro era uma grande sala em que os professores testavam uma supertecnologia, como fazer aula de anatomia e usar 3D.

Hoje a concepção da instituição é transformar todos os campi em smartcampi. É um dos grandes projetos estratégicos que estamos conduzindo de integração entre o ensino presencial e o virtual. Também estamos fazendo uma nova modelação em cada campus para ser mais agradável. E em todas as unidades termos cafés, hub para trazer um ecossistema de empreendedorismo para dentro da instituição, montagem de coworking, onde empresas atuam e fazem a ponte com os alunos. Muitas têm suas células de inovação dentro do hub que se conecta com toda a instituição, e são empresas de grande porte. Por exemplo: a Farmácias São João, uma das maiores redes do país, a BSBios, uma das maiores produtoras de biodiesel do país, e empresas de relevância para a economia. Por último, um quarto elemento, que é o mais importante, uma compreensão muito clara que se tem nos EUA e fora do país de que não se pode dissociar a academia e o ensino do mundo empresarial. E para fechar esse quarto ponto, uma ação super importante que iniciamos é criar projetos que atendam às expectativas das empresas por meio de parcerias.

7 – Quais as parcerias feitas pela IMED que fazem com que os alunos se mantenham na instituição? E quais os diferenciais que a instituição oferece em relação às concorrentes?

WZ: Como estamos aproximando ao máximo o mundo acadêmico do empresarial, vou citar alguns exemplos de parcerias em projetos. O desafio do comportamento. O RH da Cotrijal, uma cooperativa agropecuária e industrial gaúcha, apresenta o seu problema e os alunos, com uso de uma metodologia colocada pelo professor da disciplina, precisam desenvolver soluções, mas eles vão checando os avanços com os gestores da empresa no decorrer do semestre e, ao final do desenvolvimento, tudo é avaliado pela empresa e não pelo professor, que só conduz o processo.

Outro exemplo: uma fornecedora do ramo automotivo de grande porte, a Bruning, indica para os alunos de Ciência da Computação e da engenharia mecânica problemas que devem ser resolvidos nos laboratórios de células de inovação da instituição de alguns produtos. Esse tipo de trabalho muda a percepção do aluno, que antes fazia um trabalho e imprimia para ninguém ler, e agora leva para uma empresa que avalia.

Outro exemplo é o caso da TI, que é mais emblemático. Nós temos um programa, em parceria com o Instituto Ayrton Senna, que ensina a lógica da programação para alunos do 5º ao 9º ano, e que é financiado por fundações e por empresas do segmento. Usando a metodologia do Instituto, temos hoje mais de 5 mil alunos vinculados a esse programa a cada ano. Temos um segundo programa, #Teu Futuro (http://teufuturo.imed.edu.br), este focado nos alunos do 3º ano, e as empresas pagam para executarmos um processo de formação básica de TI para que esses alunos entrem nessas empresas. Já são 700 estudantes no RS e em mais 25 estados brasileiros, com a ampliação confirmada para novas 2 mil vagas ainda em 2021. Só em Passo Fundo, são 500 alunos do ensino médio participando, e no final do curso as empresas contratam a maioria dos alunos formados no programa, e pagam para eles o ensino superior. O aluno vai ter emprego e resolve o problema de falta de mão de obra de TI na indústria. Hoje nós temos 99% dos alunos empregados nos cursos de tecnologia. Muitos deles trabalhando para empresas multinacionais e ganhando em dólar ou euro.

8 – O que o STHEM Brasil poderia oferecer a mais para suas consorciadas e que hoje ainda não oferece?

WZ: O consórcio está à frente do que se propôs no início, que era formar professores e fazer esse papel de estar à frente, e hoje ele forma gestores, cria grupos de tecnologias específicas e transbordou com o seu propósito inicial. Um grande detalhe é não perder o foco e manter o pilar de transformação e de formação, porque o consórcio é muito importante. Nós temos uma necessidade grande de transformar a mente dos nossos professores. Tem de transbordar, mas não pode perder a essência, que é a melhoria dos nossos professores.