O segundo webinar da terceira série de videoconferências realizada pelo Consórcio STHEM Brasil juntamente com o Semesp, “A educação superior no mundo pós-Covid-19: lições aprendidas pelas IES internacionais”, ocorreu nesta quarta-feira (20) e contou com a participação da editora-chefe da publicação norte-americana Chronicle of Higher Education, Liz McMillen, que falou sobre as implicações financeiras das instituições durante a pandemia, da volta as aulas presenciais e do futuro das aulas remotas.

“Com a pandemia, e as aulas emergenciais remotas, as instituições privadas nos Estados Unidos vivem um momento de muitas pressões financeiras. As mensalidades são altas e as instituições oferecem muita ajuda aos alunos menos favorecidos por meio de bolsas de estudo. As instituições estão concedendo descontos de até 70% em mensalidades, o que vai gerar a longo prazo uma crise financeira sem precedentes, mas há também uma questão moral porque antes da preocupação com o financeiro é preciso ter a consciência da importância da saúde pública e a preservação da vida humana em tempos da Covid-19”, alertou McMillen. Segundo a especialista em educação, “se esse cenário se prolongar por muito tempo, até 2026 as instituições de ensino americanas prevêem uma queda de 15% no número de ingressantes no ensino básico e até mesmo no secundário”.

Liz McMillen citou alguns exemplos de instituições americanas que já divulgaram projeções de prejuízos. “A Universidade de Michigan, umas das melhores públicas dos EUA, anunciou que terá uma perda de US$ 1 bilhão, principalmente de patrocinadores, porque a faculdade é conhecida pela promoção de campeonatos de futebol americano que geram recursos financeiros por meio da publicidade”. Outro exemplo citado por ela foi o da Universidade John Hopkins, de Baltimore (Maryland). “A universidade é muito conhecida por desenvolver vacinas e prestar serviço à população e, com a pandemia, seus prejuízos serão da ordem de US$ 375 milhões, sendo US$ 200 milhões nos serviços de atendimento médico e o restante na redução das mensalidades”.

McMillen apresentou também uma pesquisa, realizada em abril último, junto aos reitores de  faculdades dos EUA, onde perguntaram se pretendem ou não voltar as aulas tradicionais e presenciais no próximo outono (meses de setembro a novembro). “Vai ser muito difícil as aulas continuarem on-line, porque nesse estudo 68% dos reitores pensam em voltar às aulas presenciais, 10% vão aguardar ainda para decidir até julho,10% estão considerando uma variedade de cenários e apenas 7% estão propondo um modelo híbrido de ensino e 6% continuar de forma on-line”. Segundo a palestrante, “os resultados do estudo mostram que pós-pandemia os cenários das instituições de ensino, principalmente as que atendem os menos favorecidos, será difícil e, ao mesmo tempo, desafiador”.

Para McMillen esse resultado é prova de um sentimento de preocupação dos mantenedores com a nova e improvisada educação 100% on-line. “Os pais estão reclamando muito, os alunos desejam ter aulas presenciais e para quem ingressa no primeiro ano da faculdade há um sentimento de desejar a interação  com seus novos amigos e praticar atividades físicas”, disse a especialista, que encerrou sua apresentação mostrando caminhos a seguir: “As instituições terão de se preocupar umas com as outras e fazer redes de cooperação, com a finalidade de partilhar recursos e conhecimento, ser mais eficientes, criar modelos mais sustentáveis de negócios, rever cursos, currículos e programas,criar uma pedagogia mais efetiva que engaje os estudantes em situações mais vulneráveis e buscar um modelo mais híbrido de ensino, ou como nos EUA chamam de ‘high flex’, de alta flexibilidade, onde os alunos serão mais empoderados para decidir como querem cursar suas aulas, se presencialmente ou remotamente”.