Mozart Neves Ramos, Professor Titular da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira do Instituto de Estudos Avançados da USP – Ribeirão Preto

“A Covid-19 empurrou a fronteira da educação” é o segundo episódio da série de seis webinars realizado pelo Consórcio STHEM Brasil em parceria com o Semesp, que aconteceu nessa segunda-feira (20), com a participação do Professor Titular da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira do Instituto de Estudos Avançados da USP (Ribeirão Preto) e Membro do Conselho Nacional de Educação (CNE), Mozart Neves Ramos.

“Pensar no futuro é uma atitude arriscada, mas toda vez que muda-se as relações sociais e econômicas, e passamos por períodos de transição, deve haver uma disrupção. Tanto na educação básica quanto no ensino superior pós Covid-19, aquela figura do professor tradicional que busca apenas um único caminho para dar suas aulas presenciais, vai perder o seu espaço de importância. O ensino presencial será cada vez mais disruptivo, e o coronavírus foi o catalisador desse processo, disse Mozart.

Segundo ele, já em 2000 a Escola do Futuro da USP fez uma pesquisa junto a seus alunos, e os números foram surpreendentes mostrando que eles acreditavam que o professor clássico estava com os dias contados, que gostariam  de aulas a distância e com o uso de novas tecnologias e que os cursos deveriam ser mais voltados para as habilidades específicas de cada um.

“Há 20 anos 62% dos alunos já queriam aulas em EAD e com novas tecnologias, 55% deles gostariam de montar seus próprios cursos e 41% acreditavam que as salas de aula não teriam mais um lugar tradicional, físico e específico. Só que nós, educadores, não mudamos muito de lá para cá e foi preciso chegar o coronavírus para que as instituições oferecessem, na velocidade esperada e em escala, um ensino mediado por tecnologias, saindo do modelo tradicional”, disse Mozart.

O educador foi além e afirmou que “o ensino hoje vive uma complexidade muito maior e tem de ser exponencial, ou seja, pensar fora da caixa e o coronavírus foi o catalisador desse processo acelerando as transformações, ou seja, fazendo com que professores saíssem de uma hora para outra de um modelo que ainda é tradicional para um modelo totalmente disruptivo”. O ensino remoto veio para ficar!

Mozart citou também um estudo feito pelo Inep/MEC que acompanhou a trajetória de todos os ingressantes no ensino superior no Brasil em 2010, tanto no setor público como privado. O resultado é que de cada 100 alunos que ingressaram em 2010, 57 deles abandonaram o ensino superior!

Para ele, essa porcentagem tão alta reflete a falta de sintonia entre a expectativa do aluno e o que ele recebe ao longo do curso universitário. As instituições de ensino superior precisam pensar no projeto de vida de seus alunos: “O aluno precisa de autonomia e um ensino flexível, e assim dialogar com este projeto de vida”. O binômio inovação e internacionalização é um importante alinhado nessa direção, mas custa caro, o que implica no fortalecimento da colaboração interinstitucional via trabalho em rede.

Mozart lembrou ainda que hoje grandes companhias como Apple, Google, IBM, Publix, Bank of America, entre outras, não estão mais exigindo, diferente de anos passados, para algumas de suas funções, o diploma de nível superior, mas as competências necessárias para o exercício pleno destas funções.

Daqui por diante não podemos esquecer de incorporar nas estratégias de formação de pessoas a inteligência artificial e suas plataformas adaptativas. Num futuro breve cada professor vai acompanhar o desenvolvimento de cada um de seus alunos em termos dos objetivos de aprendizagens esperados ao longo do processo de formação.

Por fim, ele reforçou que para a sobrevivência das instituições de médio e pequeno porte, passará necessariamente pelo trabalho colaborativo, em rede. “Para inovar é preciso trabalhar em redes de cooperação e acabar com essa distinção entre público e privado para o bem comum da sociedade. Quando todos estão juntos em busca de problemas comuns, soluções incríveis acontecem e ganhamos em competitividade”.