Por Fábio José Garcia dos Reis

Ao longo de 2017 tive a oportunidade de manter contato com pessoas que são especialistas em ensino superior, especialmente na área de políticas públicas. Foi possível conversar com representantes do MEC responsáveis pela definição das políticas públicas do Brasil, na área do ensino superior. Nas conversas, ouvi elogios às instituições que possuem planejamentos consistentes, que investem em inovação e que são ousadas no seu projeto acadêmico. Quando ouço essas manifestações, confesso que meus olhos brilham, pois eu acredito que com as boas políticas públicas, com trabalho coletivo, com boas ideias, criatividade e pessoas compromissadas podemos melhorar o sistema de educação do Brasil, em todos os níveis.

Por outro lado, ainda é preciso combater uma série de mazelas que permanecem em nossas escolas (estou generalizando e não me refiro a um caso específico). É preciso reconhecer que há o “lado negro da força” ainda presente no “mundo do ensino superior”. O texto a seguir pretende provocar o leitor, sem ser ofensivo. Vamos lá!

Uma escola sem direção é como um navio que não tem uma carta de navegação ou como um avião que supostamente tem uma rota, mas não chega ao seu destino.  Escolas sem líderes gestores e sem planejamento tornam-se uma instituição esquizofrênica, perdida, sem comunicação, que navega conforme o vento, e os micropoderes se manifestam a todo momento.

Eis um problema: os micropoderes que são típicos de instituições em que há uma crise de liderança capaz de estabelecer um direcionamento abrem caminho para que diversas pessoas queiram mandar em seu pedaço e no pedaço dos outros. Os micropoderes se manifestam em ambientes em que há um vazio de poder, onde quem deveria “governar” não governa.  Os micropoderes são danosos à instituição, pois corroem a coesão.

A falsa cordialidade também é um problema. Recomendo a leitura de “Raízes do Brasil”, de Sérgio Buarque de Holanda, o capítulo sobre o homem cordial é “bárbaro”. Nas instituições encontramos pessoas que não acreditam em determinados projetos e que minam as ações que pretendem colocá-los em prática, mas ao mesmo tempo, essas mesmas pessoas mantêm uma cordialidade com os proponentes do projeto ou com a própria instituição (quando a instituição é a responsável pela iniciativa) falsa e danosa. O “tapinha nas costas” representa a manifestação de uma cordialidade perigosa.

O que fazer para contornar essas situações? Escolha muito bem o time de líderes que irá assumir funções estratégicas.  Conheço líderes que em momentos de crise não se escondem. Conheço líderes que cuidam da comunicação. Conheço líderes compromissados em definir a “carta de navegação da escola”.

Seja um líder gestor, de fato.

Os responsáveis pelas escolas que querem a instituição bem organizada e próspera precisam assumir compromissos, “estarem juntos” com as pessoas (presença e diálogo assertivo) e combaterem os micropoderes.  Como estou envolvido com o tema da inovação acadêmica, cito um exemplo: escolas em que os líderes falam que acreditam na inovação, mas que assumem posição dúbia em relação a isso, não vão obter bons resultados e prejudicam a implementação do projeto na instituição.  A cordialidade falsa em processos de inovação provoca danos e percepções equivocadas de professores e estudantes, especialmente.

Acredito em iniciativas como a do Consórcio STHEM Brasil e das Redes de Cooperação, que é um projeto do Semesp, pois há compromisso sincero dos líderes e clareza nas propostas. Faço a opção por escolas bem planejadas e pelos líderes gestores. Reconheço que as mudanças culturais são lentas e que as pessoas possuem tempos diferentes no processo de transformação do comportamento. Faço o convite para que possamos defender boas ideias.

Em um contexto em que o Brasil carece de políticas públicas, em diferentes dimensões, declaro o meu otimismo. Os líderes gestores cada vez mais vão procurar formação e conhecimento sobre o funcionamento e a dinâmica do ambiente de ensino superior, vão investir em inovação, vão definir a carta de navegação da instituição, vão valorizar as pessoas e vão combater os micropoderes e a falsa cordialidade.

Eu também acredito que os responsáveis pelas políticas públicas do Brasil, com o apoio das associações representativas do ensino superior vão intensificar os incentivos para que os processos de inovação acadêmica sejam incorporados na cultura institucional.  Eu acredito que teremos boas políticas públicas para o ensino superior, pois não há alternativa. Caso isso não aconteça, estamos condenados a reclamar e fazer reformas paliativas no sistema de ensino. Será o mais do mesmo, em que o novo, sempre irá nascer com a cara do velho.

Espero viver para presenciar mudanças significativas no funcionamento e na dinâmica das escolas e, especialmente, no sistema de educação, como um todo.