O palestrante do quarto e último webinar da série “Cenário do Ensino Superior no Mundo Atual”, o holandês Johannes Wilhelmus Maria Hans de Wit, consultor para organizações como Comissão Europeia, Unesco, Banco Mundial, IAU e Parlamento Europeu, afirmou nesta terça-feira (18) que “a Europa está se recuperando da pandemia em uma velocidade não tão rápida quanto à Inglaterra, mas é possível que até em outubro desse ano grande parte do lockdown seja deixado para trás e as aulas presenciais possam voltar”.

O especialista afirmou durante o evento, realizado pelo Semesp em parceria com o Consórcio STHEM Brasil, que “por questões econômicas os países em desenvolvimento, como Brasil, Índia e África, estão com maiores dificuldades em conter a Covid-19 e com menos capacidade de recuperação”. Em sua opinião, “a educação superior na Europa será menos impactada do que nos países em desenvolvimento porque está ocorrendo a privatização das universidades europeias, onde o processo ainda é incipiente, e maiores investimentos no setor público”.

Hans de Wit afirmou que o continente europeu investirá 8 bilhões de euros nos próximos dois anos no ensino primário e secundário, “e uma parte vai para capacitar professores da educação superior”. No entanto, a grande preocupação agora é com a questão da internacionalização dos estudantes. “Tivemos de investir e fazer alianças por meio da criação de consórcios on-line internacionais. Essas alianças foram feitas com cerca de 10 universidades da Europa Central, Leste, Sul, Oeste e do Reino Unido em pesquisa, desenvolvimento e ensino, com o propósito de servir à comunidade e, principalmente, para aumentar a mobilidade dos estudantes. Muitas dessas alianças já estavam aprovadas na Comissão Europeia, para permitir que até 50% dos estudantes pudessem estudar em outras universidades que participavam dessa parceria”.

O consultor também enfatizou que a Europa respondeu bem à gestão de crise durante a pandemia. “Fomos forçados a fazer uma educação de forma remota repentinamente, mas surpreendentemente professores e estudantes se saíram muito bem. Só que criamos desafios sérios que não foram os tecnológicos, de velocidade de internet, equipamentos ou plataformas on-line, mas sim os de ordem psicológica, como manter o bem estar dos estudantes que tiveram de encarar o ambiente doméstico, o estresse e o afastamento dos amigos e da convivência social nos campi”.

Hans de Wit lembrou ainda do impacto negativo do coronavírus no cancelamento da educação presencial para os estudantes do intercâmbio no Programa Erasmus. “Tanto o Reino Unido como a Austrália estavam muito dependentes das mensalidades pagas pelos estudantes internacionais, e a pandemia impactou-os fortemente. No Reino Unido, em particular, por ter saído da União Europeia no chamado Brexit, a mensalidade ficou muito alta. Não sabemos se no curto prazo o país vai se recuperar. Temos também de ver a Alemanha, a França e a Holanda, que têm um grande número de estudantes internacionais, embora com mensalidades mais baixas do que no Reino Unido e bem mais acessíveis à classe média”.

Por fim, Hans de Wit disse que “a tendência do ensino superior no futuro é um modelo mais híbrido, com aprendizagens colaborativas e professores internacionais dando aulas on-line.  Os estudantes de intercâmbio devem voltar e, na educação nacional, estamos prevendo um aumento de 8% nas matrículas dos estudantes locais. É normal, depois de uma crise sanitária como essa e não por problemas sócio-econômicos, os estudantes voltarem. Até porque agora teremos um mercado de trabalho mais difícil, e isso leva a uma procura por maior especialização e ao ensino superior”, concluiu.