Agnes Kukulska-Hulme (foto), professora de Tecnologia de Aprendizagem e Comunicação no Instituto de Tecnologia Educacional da Open University, onde ela lidera o Programa de Pesquisa e Inovação em Aprendizado do Futuro e a série de relatórios de insights de Pedagogia Inovadora, abriu o segundo dia da VIII Semana de Formação do Consórcio STHEM Brasil nessa terça-feira (25) com o tema: “Equidade, diversidade e inclusão na educação on-line”. Em seguida, coube à a professora do Instituto de Tecnologia Educacional da Open University e pesquisadora da Academia de Educação Superior, Elizabeth FitzGerald, detalhar os três conceitos para a formação de um currículo inclusivo na instituição em que ambas atuam.

A professora Agnes Kukulska-Hulme destacou que “nossos materiais são projetados para que os cerca de 175 mil estudantes de educação a distância de nossa universidade possam acessá-los de vários aparelhos. Temos uma forma flexível de estudo, porque os nossos alunos trabalham em tempo integral ou parcial e acompanham os nossos cursos on-line de vários lugares do mundo. Nossa missão é social e acreditamos que devemos dar boas vindas e  suporte a todos os nossos estudantes, para que tenham êxito em seus estudos”, disse.

Ela explicou como a Open University planejou o Programa de Pesquisa e Inovação. “Desde 1969 promovemos a oportunidade educacional e a justiça social ao oferecer educação de alta qualidade a todos aqueles que desejam concretizar suas ambições e realizar seu potencial. A diversidade traz vantagens para a instituição e diferenças nos resultados de aprendizagem”. A educadora citou, em sua primeira parte da apresentação, as inovações pedagógicas que foram elaboradas a partir de parcerias colaborativas e que verificam novas tendências no ensino e na aprendizagem. “Desde 2012 produzimos anualmente relatórios para encontrar novas tendências, avaliar evidências, escrever, revisar e melhorar o ensino e percebemos 10 inovações pedagógicas ao longo desses anos e que estão em curso”.

A Pedagogia para justiça social, segundo a professora Agnes, é quando a educação pode ajudar os estudantes a lidar com as injustiças na vida e na sociedade. “Trata-se de examinar como o conhecimento é produzido e por quem, questionando as opiniões dominantes e as suposições, além de engajar os alunos em várias etapas do processo de construção do currículo educacional e aprender quem os seus alunos são, conhecer suas comunidades ou culturas”.

A instituição faz uso de elementos como música, rap, vídeos, grafiti e breakdancing no currículo. “Ela oferece uma abordagem cultural apropriada para empoderar os grupos de aprendizes marginalizados, consegue um maior engajamento, motivação e aprendizagem social e emocional dos alunos”, enumera Agnes. Já no processo de cocriação do ensino e aprendizagem com os alunos, todos compartilham a responsabilidade com os professores ao projetar materiais e atividades, assim como as próprias avaliações. “A cocriação dos materiais de ensino e aprendizagem por professores e alunos pode levar a um maior empoderamento dos alunos e melhor relacionamento entre eles”.

A educadora citou ainda o projeto em andamento “Como chegar às populações marginalizadas em países com poucos recursos”. Segundo ela são quatro etapas: “Primeiro definimos a marginalização no ensino e identificamos as comunidades afetadas; depois coletamos testemunhos de experiências de alunos e professores em seus países (Sudão, Senegal, Bangladesh e Nepal), para em seguida analisar as práticas de educação mediadas por tecnologia, na língua inglesa e idiomas locais, para então, em uma última etapa, extrairmos as implicações políticas, pedagógicas e de pesquisa para o uso da tecnologia, língua inglesa e idiomas locais”.

Lei de Igualdade

Falando na sequência, a professora Elizabeth FitzGerald (foto) comparou a Lei de Igualdade do Reino Unido com a do Brasil.

Para e educadora, a igualdade é “dar a todas as pessoas ou grupos de pessoas um tratamento justo, independentemente se essas pessoas tenham uma característica protegida por lei. A ideia não é ser só justo, mas dar igualdade de oportunidades a todos. Mas a igualdade não dá uma equidade de oportunidades”, explicou. Para Elizabeth, “equidade é dar a mesma oportunidade a todos para fazer o que tem de ser feito e ter as ferramentas apropriadas para que cada um possa se engajar da melhor maneira possível na sociedade”.

Segundo a educadora, no entanto, “quando pensamos nos aprendizes, o aprendizado não acontece só na juventude. Aprendemos ao longo da vida toda e por conta disso nós temos vários alunos que são adultos, com famílias. A ideia é conhecer as diferenças de cada um e dar apoio, fazendo um ambiente para que todos sejam acolhidos. Nós queremos criar um ambiente diverso, com uma grande gama de experiências e mentalidades que permitam que os nossos alunos possam criar uma cultura de empoderamento”.

Ela destacou que “existe a Lei de Igualdade no Reino Unido, de 2010, que diz que não podemos discriminar pessoas por suas características sejam elas de idade, gênero, cor, etnia, religião, deficiência, orientação sexual, casamento/união civil, gestação/maternidade, entre outras. Precisamos pensar que assim como no Reino Unido, 45 milhões de pessoas, ou quase um quarto da população mundial, tem algum tipo de deficiência, ou alguma característica que leva à discriminação”, alertou.

Em seguida ela citou o Brasil e falou sobre a diversidade de etnias. “Eu olhei para o marco legal brasileiro que proíbe a exclusão ou limitação de oportunidades educacionais. No Brasil há 45 milhões de pessoas (quase 24% da população) que têm algum tipo de deficiência ou incapacidade. E tem a população indígena. Segundo a Unesco, são 897 mil indígenas, de 305 comunidades étnicas e 274 línguas. A ideia é que as instituições brasileiras reconheçam essa diversidade, respeitem e aprendam com cada uma delas”, disse.

Segundo Elizabeth, na Open University foi criado um centro para atender estudantes de todas as raças e etnias. “No Reino Unido a questão BAME (Black, Asian and Minority Ethnic) – negros, asiáticos e minorias étnicas – é bem delicada e cada vez mais se populariza o termo minorias étnicas, e não raça, em relação às comunidades asiáticas, em que há muitos países e nacionalidades, e na população negra”, lembrou.

Por fim, a educadora falou sobre inclusão, que tem a ver com a equidade e a diversidade. “Criar um ambiente no qual todos se sintam bem-vindos, valorizados e inclusos (pertencentes) só acontece após estarmos mais conscientes do nosso viés inconsciente e aprendermos a lidar com eles, o que não é nada fácil”. Segundo ela, a Pedagogia da Equidade praticada na Open University considera lacunas no sucesso educacional devido a certas características, como deficiência ou etnia, e que um “tamanho único” não serve para todos. A educadora citou a forte tendência em direção a inovações pedagógicas com o objetivo de criar equidade: “Cada aluno pode alcançar resultados positivos semelhantes, sem importar seu contexto e características, e é necessário considerar as barreiras em vários níveis: pessoal, cultural e social”.

Segundo Elizabeth, para praticar a equidade são quatro passos: ouvir e adaptar o ensino aos alunos, fazer adaptações para garantir que a voz e experiência de vida deles seja integrada às experiências de aprendizagem, considerar aspectos como o uso da língua e referências culturais e fazer uso de estruturas pedagógicas para apoiar a equidade e conscientização de como as práticas de avaliação podem ser injustas.