Nessa quarta-feira (10), Jun Hyun Hong, professor da Escola de Serviço Público e ex-vice-presidente de Assuntos Internacionais da Universidade de Chung-Ang, em Seul, detalhou como o Governo da Coreia do Sul e as universidades coreanas estão enfrentando a pandemia do novo coronavírus. É o quarto webinar da terceira série “A educação superior no mundo pós-Covid-19: lições aprendidas pelas IES internacionais”, realizada pelo Consórcio STHEM Brasil, juntamente com o Semesp.

“Desafios e oportunidades da Covid-19 para o ensino superior: a experiência coreana” foi o tema da palestra de Hong, que enfatizou as medidas “duras” que o governo da Coreia do Sul tem tomado para conter a pandemia. “O governo coreano percebeu que o impacto maior eram em áreas metropolitanas e tomou medidas urgentes, como reportar como estava a situação da pandemia diariamente à população, de forma totalmente aberta e transparente. Estatísticas diárias mostram quantos infectados temos, em quais províncias se encontram, e até um inventário de onde comprar máscaras, que têm uso recomendado mas não obrigatório na Coreia”.

Para Hong, a redução de casos da doença no país e a transparência do governo fizeram com que a população “se engajasse civicamente”. No entanto, o país, que recebe muitos estudantes da China – o primeiro caso reportado foi em 21 de janeiro, de um chinês que estava no aeroporto –, teve que se estruturar e tomar medidas para conter a Covid-19, principalmente nas fronteiras.

Segundo Hong, foram pensadas pelo governo cinco fases. Na 1ª fase as fronteiras ficaram abertas, mas foi usado um procedimento especial de entrada, com um aplicativo móvel para medir a temperatura das pessoas; na 2ª, o teste passou a ser obrigatório para viajantes que chegam das regiões mais afetadas pela Covid-19; na 3ª fase foi imposta quarentena obrigatória para todos os viajantes; na 4ª, suspensão dos vistos de entrada; e na 5ª, teste obrigatório da Covid-19 para todos os viajantes entre províncias e de fora do país.

Segundo Hong, a Coréia do Sul está agora na 3ª fase. “Com a testagem, rastreabilidade e tratamento dos infectados, a Coreia não pretende aplicar o lockdown”. No entanto, uma das medidas foi o cancelamento das festividades para os ingressantes, o que não tem agradado os estudantes coreanos e estrangeiros. “Os calouros, que normalmente são recebidos para as festividades de inverno e verão, foram informados que todas as cerimônias tinham sido canceladas. E, lógico, eles não gostaram nada”, lembrou.

Outras medidas tomadas foram o fechamento de todos os cursos de idiomas, o isolamento de estudantes estrangeiros, principalmente os que vinham da China, e foi  reajustado o calendário, sendo adotadas aulas on-lineA avaliação começou a ser feita de forma escalonada e o exame final do semestre, realizado digitalmente.

“Como apenas 0,9% dos nossos cursos são on-line e 99,1%, presenciais, o Ministério da Educação lançou um programa de reforma na educação para dar suporte a alunos e professores e implantar estúdios para criação de aulas remotas”, contou. E contabilizou os números antes, durante, e agora que a pandemia já está praticamente controlada na Coreia. “Em março só cinco instituições usaram aulas remotas. Em abril, com o programa do Ministério da Educação, 135 instituições, principalmente as que oferecem cursos técnicos, já estavam engajadas na plataforma e, em maio, 165 IES decidiram por aulas on-line”.

Com 11.814 casos detectados de Covid-19, 10.563 pessoas curadas, 978 ainda em isolamento e apenas 273 mortes até o dia anterior à palestra, e com a aplicação de 1 milhão de testes, a Coreia se preparou para o retorno das aulas presenciais com medidas restritivas que estão sendo adotadas pelas instituições de ensino. “Temos de pensar o modelo de ensino com aulas que misturam o presencial e o remoto, mais híbridas, mas na Coreia as instituições estão fazendo o controle de acesso nas entradas do campi, o uso de um adesivo para que somente alunos cadastrados possam circular, controle de temperatura, ducha de aspersão antibacteriana, limitação de distância nas salas e nos espaços de conveniência”.

Quanto aos desafios, segundo Hong, “a Coreia precisa pensar na qualidade dos cursos on-line; capacitar professores para esse novo ensino; criar um modelo onde as aulas sejam síncronas, assíncronas e/ou híbridas, ter um conceito muito claro de aulas virtuais, pensar como solucionar o problema do streaming e a capacidade de seus servidores, enfrentar as dificuldades financeiras impostas pela pandemia e a possibilidade de cancelar os programas de intercâmbio, por questões se segurança e sustentabilidade, mesmo que isso traga prejuízos as instituições”.