Margarida Mano, Presidente da FORGES (Fórum de Gestão do Ensino Superior dos Países e Regiões de Língua Portuguesa).

 

“Desafios Estratégicos do Ensino Superior pós-pandemia” foi o terceiro da série de seis webinares que o Consórcio STHEM Brasil, em parceria com o Semesp, realizou nessa quinta-feira (23), com a participação de Margarida Mano, doutora em Gestão pela Universidade de Southampton (Reino Unido) e mestre nas áreas de Economia (políticas econômicas) e de Gestão (estratégica e de qualidade e avaliação institucional) pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e atualmente Presidente da FORGES (Fórum de Gestão do Ensino Superior dos Países e Regiões de Língua Portuguesa).

Margarida Mano dividiu sua apresentação em três situações, resumidas em três palavras; três impactos e três oportunidades. “Estamos vivendo um momento laboratorial coletivo no ensino superior, onde todos estamos ensaiando as melhores formas e caminhos para nos adaptarmos a Covid-19”, disse.

As três palavras escolhidas por Margarida foram: pandemia, choque e contexto. “A pandemia ninguém imaginava e nos trouxe um alto impacto que, de repente, mudou tudo. A mudança nos trouxe o custo de vidas perdidas sem fronteiras, incertezas tanto na educação como na economia mundial e as instituições de ensino não estavam preparadas para reagir a essas incertezas e para mudar suas estratégias em um novo cenário”, lembrou a educadora.

A solução, segundo Margarida, “é ter foco e horizonte de tempo e não fazer projeções, mas trabalhar com cenários futuros possíveis em que as decisões de hoje poderão vir a ser testadas”. Para ela, “as incertezas cruciais são variáveis decisivas que farão a diferença, pois não se pode antecipar fatos nessa pandemia e, sim, princípios”.

O “choque” enquanto econômico, segundo Margarida, acontece de três formas: no lado da oferta (causando a destruição da capacidade produtiva, com o desemprego e a falência de empresas); no lado da procura (com a queda no rendimento das famílias, a falta de confiança devido às incertezas e o confinamento) e no sistema financeiro (com o aumento do endividamento, das taxas de juros, do crédito e de impostos).

Quanto ao choque na educação, “De repente temos, segundo a Unesco, 1,4 milhão de estudantes no mundo, 8 milhões só no Brasil, parados em casa com aulas remotas emergenciais e as perguntas que nos fazemos são: será que nada será como antes ou apenas se acelerou o futuro?”, questionou.

Em seguida, Margarida mostrou três impactos pós pandemia. “No ensino acredito que as aulas presenciais diferenciadas vão ser muito mais valorizadas pós-Covid-19, o Blended Learning (aprendizagem híbrida) aumentará drasticamente, a educação on-line será uma prioridade estratégica em todas as instituições e todas as parcerias com gestão de programas on-line serão repensadas”, enumerou.

No impacto do financiamento, Margarida mostrou um cenário nebuloso. “Todos os recursos públicos que deveriam ser direcionados neste momento para a educação vão competir com outras áreas como a da saúde e a da economia; as dificuldades de contexto e os padrões de custo on-line irão promover cortes de custos e redução de pessoas, as infraestruturas vão corresponder a custos acrescidos e significativos. A qualidade será o fator de seleção e de maior disparidade entre as IES”, resumiu.

O último impacto, sugerido por Margarida, foi a internacionalização. “Vamos ter de trabalhar em redes de cooperação, com um maior reconhecimento de internacionalizar em nossa casa por meio dos currículos, competências, resultados de aprendizagem para todos os estudantes e um maior valor para o impacto social das universidades em escala global. O contexto institucional local, nacional e regional vai ser importante na definição do porquê, como, e quais os resultados pretendidos com a internacionalização”, orientou.

Por fim, a educadora se referiu a três oportunidades que as instituições devem considerar: o digital, a possibilidade de fazer diferente e a reflexão sobre as dimensões críticas. “O ensino digital resolve o distanciamento social, diversifica canais de comunicação e potencializa as redes. Mas não adianta sermos digitais se não aproveitarmos esse momento único para pensar diferente e ajudar a humanidade a fazer as escolhas certas. Pensar em tudo que o futuro pode nos trazer de bom. Temos de lembrar que nem todos os estudantes do mundo têm as mesmas oportunidades e é preciso que sejam criadas políticas públicas para que o conhecimento chegue a todos os níveis sociais”, finalizou.