Mais de 140 docentes acompanharam nessa segunda-feira (12), no 4º módulo do IX Programa de Formação de Professores do Consórcio STHEM Brasil,  as apresentações sobre o tema “Envolvendo o Corpo Docente no Sucesso do Aluno” da diretora da Academia de Advocacia da Universidade do Sul da Flórida (USF), Leslie Tod, e do professor associado e coordenador do Curso de Doutorado em Administração do Ensino Superior da mesma instituição, Thomas Millert.

“Eu conheci a Universidade do Sul da Flórida, em 2019, em um congresso realizado pelo Semesp. Ficamos encantados como a universidade pensa no sucesso do estudante, que não é apenas na questão da empregabilidade, mas como algo holístico. Isso a leva a IES a ter uma taxa de retenção incrível. Foi então que no mesmo ano, levamos cerca de 11 reitores associados ao STHEM Brasil para conhecer o Projeto Sucesso do Estudante, que objetiva que todos que estão na instituição são responsáveis pela captação, permanência e aprendizado dos estudantes”, lembrou o presidente do Consórcio, Fábio Reis.

Leslie Tod iniciou lembando que a Universidade do Sul da Flórida é pública, tem hoje cerca de 53 mil alunos, sendo 48 mil alunos de graduação, divididos em três campi, além de ser altamente avaliada pela qualidade de suas pesquisas. “Somos uma das instituições que mais cresce nos EUA em termos de ranking e chegamos ao Top 100. Dessa forma, temos de pensar em todas as oportunidades para engajar os nossos estudantes e fazê-los alcançar sucesso na vida profissional e pessoal. Para isso, fornecemos um espaço para criar conexões entre alunos, professores e as pessoas que trabalham nos campi”.

As apresentações foram divididas em cinco seções:

  1. O que a literatura diz sobre o sucesso dos estudantes e qual o modelo de responsabilidade e cultura da instituição;
  2. Políticas e prática da IES;
  3. Oportunidades do Sistema de Apoio Holístico;
  4. Comunidades de Aprendizagem de Estudantes;
  5. Ecossistema, parcerias e consórcios

O professor Thomas Millert iniciou a capacitação da primeira seção fazendo reflexões sobre a pós-pandemia. “Sobre o modelo desenvolvido pela USF, percebemos que pós-pandemia havia um desengajamento entre estudantes e docentes. Foi então que criamos uma literatura mais ampla para avaliar o sucesso dos alunos no que se refere ao envolvimento do corpo docente, considerando a amplitude de oportunidades oferecidas pela instituição e, entre elas, um espaço de interação para envolver o aluno, os docentes e toda a comunidade acadêmica com o propósito de uma maior interação e aprendizado”.

Na pesquisa, segundo Millert, foram feitos três questionamentos: O que sabemos sobre os alunos e o que precisamos saber? De que maneira que o corpo docente pode contribuir ao sucesso do aluno? Como a IES avalia o seu progresso?

“Criamos uma cultura associada ao sucesso, reorganizamos e fundimos o que chamamos de estudos de bacharelado e o recrutamento de estudantes, tomamos decisões baseadas nos dados, criamos análises preditivas e desenvolvemos ferramentas para identificar os alunos que precisarão de ajuda. Desenvolvemos um modelo de atender a comunidade com responsabilidade. Com esse resultado nos tornamos reconhecidos como a instituição que mais subiu nos rankings de educação do país”, lembrou Millert.

Uma das curiosidades apontadas por Millert nas pesquisas realizadas junto aos calouros foi de que “os alunos de maior sucesso serão aqueles que desenvolverão uma certa atitude de se esforçar bastante para aprender. Os alunos que não acreditam que vão ter de trabalhar muito são os que vão precisar de maior ajuda. E alunos que acreditam que não terão como pagar a instituição precisarão de uma atenção ainda maior”.

Leslie Tod abordou aspectos da segunda seção. “Nossa política ajuda os nossos professores a entender as práticas em uma instituição pública, de grande porte, centrada em pesquisas. Criamos um regulamento e encorajamos professores e alunos a seguirem as diretrizes, e fazemos regularmente treinamento e workshops para os professores e alunos. Também criamos uma política que requer que os docentes enviem relatórios de progresso semestrais de seus alunos, além de práticas de autoimpacto. Temos a acreditação e um planejamento de aumento de qualidade. Criamos uma conferência anual onde os nossos alunos apresentam suas pesquisas e isso tem sido o grande sucesso das nossas oficinas de alunos de bacharelado”.

Entre os projetos para melhorar a qualidade no ensino da USF, Leslie citou o Cidadãos Globais, um programa que cria oportunidades globais para os estudantes estudarem fora, principalmente questões de sustentabilidade, o Escritório de Engajamento na Comunidade e Liderança, um local onde se dá suporte a estudantes e docentes de como podem ser feitas pesquisas por meio de bolsas de estudos para criar um engajamento junto à comunidade para resolução de questões locais e globais.

Thomas Millert lembrou dos Planos de Responsabilização para envolver docentes a monitorar e avaliar as mudanças no currículo, criar novos programas, cursos e atividades e também avaliar alunos e docentes parceiros. Segundo Leslie, “embora, possam gerar incômodo para professores, esses planos acabam gerando insights poderosos. O maior desafio que o docente enfrenta é perguntar por que os alunos estão em determinada disciplina e assim acabam recebendo um direcionamento mais claro na carreira”.

Na terceira seção, sobre Oportunidades do Sistema de Apoio Holístico da USF, Leslie Tod contou que a instituição criou no Canvas um programa de suporte para monitorar e contabilizar as referências sobre o progresso, comportamento e bem-estar acadêmicos de seus alunos. “Criamos um assessor para cada aluno que ajuda no aconselhamento de quais cursos ou aulas particulares o aluno precisa fazer, além de trabalhar questões comportamentais e de situação de vida”.

Já Millert especificou questões mais profundas como deficiências cognitivas, impulsos alimentares e questões de saúde. “Temos uma equipe de assistentes sociais profissionais certificados que dão apoio ao bem-estar geral de nossos estudantes. Eles estão preparados para fazer agendamento de casos que precisem desse suporte para tentar entender as necessidades, já que a saúde física, mental e psíquica interfere no sucesso acadêmico e social de nossos estudantes”.

Leslie Tod lembrou a importância do Centro de Aconselhamento e do Grupo Interdepartamental, que ouvem a situação dos alunos. “Criamos um programa com suporte holístico porque temos muitos estudantes com ideação suicida. Nesse caso, encaminhamos o estudante a profissionais adequados para dar suporte. Outro exemplo são alunos que recebem alguma ameaça de violência. Esses casos vão para um suporte de intervenção que é ligado a um Departamento de Polícia. E todos ficam engajados, alunos e professores, para ajudar os que estão com problemas, porque a segurança e o bem-estar de  nossos alunos é a nossa prioridade”.

Na quarta seção, o professor Millert abordou a importância dos programas das Comunidades de Aprendizagem de Estudantes. “São 6 mil alunos que moram nos campi da USF e essa situação nos traz a oportunidade de ajudar nossos alunos a aprender com o desenvolvimento de programas em comunidades e na experiência residencial. A pergunta que fizemos é: quais são os aprendizados que os alunos podem ter em simplesmente morar com grandes grupos de colegas? As respostas nos dizem que podem ser aspectos relacionados a habilidades interpessoais, a desenvolver consciência sobre a comunidade, a perceber se existe vínculos comuns entre todos e a entender como o comportamento individual afeta o coletivo”.

Um dos programas criados foi o House Calls, uma forma de os professores e equipes multidisciplinares serem expostos ao ambiente residencial dos alunos que recebem e interagem com as visitas. “Temos alguns docentes que moram também nos campi ou em apartamentos por perto, e isso acaba sendo um presente, porque esses docentes, embora abrindo mão da privacidade e do seu conforto para morar junto com alunos de 18 e 19 anos, valorizam bastante essa interrelação. Nesse espaço eles criam vínculos e geram amizades que duram a vida toda.”

Segundo Millert, nesses espaços criam-se comunidades que se baseiam em disciplinas ou em interesses visando o currículo. “Sempre existem comunidades relacionadas ao currículo, como de alunos que gostariam de estudar fora do país, praticar judô, que queiram treinar cães-guia, e isso acaba sendo algo divertido e é um trabalho importante também”.

Na mesma seção, Millert falou ainda do Centro de Ensino e Aprendizagem de Docentes.  “Criamos grupos de interesse comum em ensino de alta qualidade, e grande parte de nossos docentes contratados como professores assistentes acabam ganhando seu cargo permanente. Eles ensinam o que aprendem e o que não haviam colocado em prática antes. A ideia é fazer com que se conectem aos pares, façam uso de ferramentas e coloquem em prática as habilidades de ensinar”.

Para Millert, “o grande desafio dos docentes nos EUA é que muitos são avaliados com base no ensino e na pesquisa, e o serviço prestado fica em um segundo plano, mas há um debate se o ensino é tão importante quanto a pesquisa. Queremos ter um ensino de qualidade que possa ser medido em todos os âmbitos e a liderança acadêmica está comprometida com esse ponto, ou seja, docentes se juntando para desenvolver novas habilidades de ensino, o que é saudável e muito bom”.

Leslie Tod lembrou ainda do Grupo Multidisciplinar criado na USF para trabalhar as melhores práticas, e os docentes certificados para dar aula virtuais. “Queremos que todos os docentes mostrem as melhores práticas de ensino no virtual. O Grupo de Docentes de STEM pode buscar suporte até em outras IES e foi reconhecido pela Fundação Nacional de Ciências, um orgulho para nós”.

Por fim, na quinta seção, foi abordado o Ecossistema criado pela USF para recebimentos de fundos com o objetivo de criar parcerias.

“A instituição tem responsabilidade frente ao governo estadual, e o Estado tem um gestor que faz a gestão da performance da IES, já que recebe fundos públicos, além também de fundos privados. Na Flórida há uma Junta Governamental que estabelece os objetivos que a própria instituição propõe e a Junta aprova, ou faz uma mudança. Tudo é baseado na performance da instituição. Essas métricas têm tudo a ver com o sucesso dos estudantes ou o sucesso do docente. E o padrão para medir a performance pode mudar de ano para ano. O objetivo fica mudando, e isso é bem complicado administrar”, alerta Leslie Tod.

Outra questão levantada por Leslie são as Juntas de Acreditação. “A Junta faz o credenciamento e certificação de cada instituição e tem um padrão diferente para cada carreira, mas diferentes propósitos a questões gerais das IES. O recebimento de fundos e o resultado da qualidade dos estudantes é concomitante a essas questões. E quando pensamos no sucesso dos estudantes em um sistema tão grande quanto o da Flórida, não temos uma voz única, não podemos deixar todos felizes, mas precisamos ter mais informações para tomar boas decisões e ver qual será o impacto dessas decisões na vida de nossos estudantes”, finalizou.